terça-feira, 20 de agosto de 2013

Carta do Povo Xukuru Kariri

 Carta do Povo Xukuru Kariri
                                          “Hoje sabemos o lugar que  
                                                                                                                    queremos ocupar na história do país”
Maninha Xukuru Kariri.


Nós, da Etnia Xukuru Kariri viemos tornar público o desrespeito que vem acontecendo com o nosso Povo, uma vez que políticos, fazendo uso abusivo da política, latifundiários e empresários têm usado os meios de comunicação para invisibilizar nossa luta, incitando a violência da sociedade contra a demarcação de nosso território tradicional. Os mesmos têm ocultado e distorcido a verdade. Sabemos que tudo isso é um jogo político, que fere a Constituição Federal do Brasil, de modo especial o artigo 231, pois o mesmo garante que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos seus bens”.   A constituição também garantiu em seu Art. 67 que “a União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição”. O decreto 1.775, de 08 de janeiro de 1996, que regulamenta o procedimento administrativo de demarcação das terras indígenas, determina no art. 4º, que o INCRA, realize o reassentamento dos ocupantes não índios de boa fé, bem como, a justa indenização pela FUNAI. Dessa forma, os direitos de todas as pessoas, indígenas e não indígenas, são assegurados em lei, como forma de realizar a justiça e promover a paz.
Através de campanhas difamatórias, veiculadas pela imprensa controlada pelos ricos invasores de nossas terras, estamos sendo acusados de atrasar o progresso do município. Como? Pois, preservamos 200 hectares de mata atlântica e 300 hectares de caatinga, Rios e nascentes existentes dentro de nossas aldeias, abastecem parte da população. Produzimos mais de 70% da banana que é vendida na feira livre de Palmeira dos Índios: macaxeira, batata, frutas, hortaliças, além da produção e conservação das sementes crioulas. Criamos pequenos animais, como aves, cabras e suínos. Fornecemos alimentos agroecológicos para o programa do governo federal PAA - Programa de Aquisição de Alimentos, com Doação Simultânea, além do PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, ampliando assim o abastecimento de uma alimentação saudável a população do município de Palmeira dos Índios. E os fazendeiros, produzem e conservam o quê?
O processo de demarcação vem atender a um direito originário dos Povos Indígenas, que lhes é garantido na constituição federal de 1988 e assegurado pela convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT assinada pelo estado Brasileiro em 2004. Com isso, a Portaria declaratória nº 4.033 de 14 de dezembro de 2010 garante e reconhece a tradicionalidade de uma área 7.033 ha. Neste contexto, a FUNAI órgão do Governo Federal, atendendo uma demanda histórica de nosso Povo, deu inicio ao processo de regularização fundiária Xukuru Kariri, no entanto devido ao clima de terror e ameaças instaurados pelos políticos locais, a FUNAI, submetendo-se aos conchavos políticos partidários, suspendeu as atividades, retirando o grupo técnico, responsável pelo levantamento fundiário, o que paralisou os trabalhos de levantamento, de vistoria e avaliação de benfeitorias construídas por ocupantes não índios na terra indígena, através do simples memorando de nº876/DPT/2013 do diretor de proteção territorial - substituto.
Repudiamos a postura arbitrária do Governo Federal, através da FUNAI e convocamos a toda sociedade civil e organizada para apoiar a luta pela regularização da terra Xukuru Kariri, onde juntos, exigimos o imediato retorno da equipe.
Palmeira dos índios, AL. 18 de agosto de 2013.
Povo Xukuru Kariri.
Convite de Adesão a Demarcação Xukuru Kariri

Nome
Organização
CPF/RG



























segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Importância Histórica do Povo Xukuru Kariri

O Povo Xukuru Kariri habita no município de Palmeira dos Índios constituído por sete comunidades com cerca 3.200 pessoas, ocupando uma faixa territorial com cerca de 1500 hectares. Grande parte das áreas de matas e caatinga da região está situada nas aldeias com cerca de 200 hectares com características de mata atlântica, 300 hectares de caatinga.  Sendo que nas áreas de matas preservadas do povo Xukuru Kariri nasce um dos principais rios do estado de Alagoas conhecido geograficamente por Rio Coruripe, que tem por afluentes Panelas, Guedes, Paranhos e Engenho Velho. Recentemente foram mapeados e catalogados cinco cemitérios indígenas que foram reconhecidos pelo INPHAN como sítios arqueológicos do próprio Povo, onde se encontram fosseis, artefatos como cachimbos, cerâmicas, ferramentas.

   O Povo Xukuru Kariri tem como base econômica a produção agrícola, que abastece as comunidades e o excedente é comercializado na feira local. Sua produção se da com hortaliças; frutas como banana, jaca, manga, mamão e maracujá; produção de sementes; e criação de pequenos animais galinha, peru, cabra, ovelha e porco. Neste contexto temos desenvolvido uma importante experiência de transição da produção convencional para a agroecologica e fortalecido o trabalho coletivo com a participação de mulheres, jovens e crianças.
                    
  O Povo Xukuru Kariri Vive em situação de conflito desde a invasão do Brasil na luta permanente para garantir a demarcação e regularização do território tradicional. Com o descumprimento da lei por parte do estado vivenciamos uma situação igual para todos os povos indígenas do Brasil, entretanto o Povo Xukuru Kariri vem enfrentando situações conflituosas, os políticos e fazendeiros tem instigado á violência e estimulando a sociedade e os pequenos agricultores, a ficarem contra o processo de demarcação. Já que em 14 dezembro de 2010 foi publicado a portaria declaratória que reconhece uma área de 7033 hectares, como território tradicional de posse do povo Xukuru Kariri pelo então ministro da justiça Luiz Paulo Barreto.


José Hélio Pereira da Silva 
Integrante do Coletivo Macambira e da Rede de Educação Cidadã