sexta-feira, 29 de novembro de 2013

GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA ALAGOANA

[i]Rúbia Nascimento

É com tristeza que escrevo, tiro de dentro do meu ser a angústia que tem me corroído nesses últimos meses. Alagoas tem aparecido como o estado que diminuiu a violência, daí eu começo a me questionar como diminuiu? A cada dia que passa mais jovens negros, pobres, periféricos estão tendo suas vidas ceifadas, pela violência, RACISMO, negação de direitos, negação das políticas públicas entre outros fatores que são encabeçados pelo RACISMO velado que temos no Estado brasileiro. Precisamos ter o cuidado para quando formos olhar oGENOCÍDIO da juventude negra, não só se focar nas grandes cidades dos estados, pois nas pequenas cidades também são seres humanos que estão morrendo, não são meros números, dados, são jovens negros que estão tendo suas vidas interrompidas, são mães que estão perdendo seus filhos e aturando da mídia imunda que os coloca como bandidos. Até quando aturaremos isso? Mídias racistas que continuam a dizer que nossos jovens são bandidos e que bandido bom é bandido morto. Que o GENOCÍDIO contra nosso povo negro é acerto de contas? Que conta é essa que precisa ser paga com a vida de nossa juventude NEGRA? Quem define isso? E nós? Nós temos que aceitar isso? Não, não. Não somos obrigados, precisamos ACABAR com esse nojento e RACISMO que além de matar nossa juventude incentiva mais crimes, pois creio que quando a mídia coloca as palavras que acima citei ela está fazendo apologia ao crime sim. Mas não é apenas sobre a podre mídia que venho falar, mas sim que em Alagoas o GENOCÍDIO não diminuiu da forma que queremos, na verdade queremos que ele acabe, a cidade de PILAR está praticamente em guerra, todos os dias jovens são assassinados, agora no município foi montada uma equipe para diminuir a violência, mão não é só da polícia que se necessita, não é com repressão que vamos acabar com as chacinas de jovens negros, pobres. A cidade de Murici também está vivendo uma violência sem tamanho, São Miguel dos Campos, Rio Largo, Maceió, entre outras.  E aí nossos jovens continuam sendo violentados, assassinados e a dívida que o Estado brasileiro tem para como nosso povo negro a meu ver tem aumentado e muito. E aí o que faremos? Mais uma vez pergunto: Como acreditar que a violência está diminuindo?
Ficam aí um pouco das minhas angústias e sofrimento cada vez que vejo noticiários, que saio de casa, que converso com amigos, vizinhos, enfim.  A dor não passa, nem ameniza, apenas aumenta.

Conselheira nacional de Juventude pela Rede de Jovens do Nordeste - RJNE, militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular - PJMP, Graduando em Administração e Educadora militante da Rede de Educação Cidadã - Recid.



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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

GECIVALDO XUCURU KARIRI: UM GUERREIRO DE VOLTA À MÃE TERRA

Jorge Vieira – Jornalista

Mais um guerreiro de volta à mãe terra. Ao amanhecer, estava estampado na página do facebook uma foto com a informação do falecimento da liderança Xucuru-Kariri, Gecivaldo Ferreira. Segundo informações preliminares, encontrava-se em tratamento no Hospital de Palmeira dos Índios, inicialmente diagnosticado pelo médico de plantão com suspeita de infecção intestinal, onde foi medicado e enviado para casa; em consequência do aumento das dores, foi levado de volta ao Hospital, onde sofreu uma intervenção cirúrgica, que acabou na UTI e no falecimento. Do ponto de vista médico, fica aí a interrogação por que não foi feito imediatamente o exame específico para identificar a real causa do sintoma.
Em quase três décadas de convivência, testemunha-se o grande lutador e defensor dos direitos indígenas, que organizou a associação indígena Xucuru-Kariri, tornou-se militante do Partido dos Trabalhadores (PT), defendeu uma assistência de qualidade da saúde indígena, dirigiu o Conselho Indígena de Saúde Indígena de Alagoas e Sergipe, além de ter dedicado a vida à luta pela demarcação do território tradicional Xucuru-Kariri.
Gecivaldo faz parte de uma geração de guerreiros indígenas que lutou pela garantia dos direitos indígenas, destacando-se o pajé Miguel Celestino, João Tomás Pankararu, Quitéria Celestino, Maninha Xucuru-Kariri e os Xucuru de Ororubá/PE, Xicão e Chico Quelé, como tantos outros que dedicaram suas vidas à defesa dos seus povos.
Em sua trajetória de vida, destacou-se pela sua capacidade política de organização interna e de diálogo com outros grupos indígenas e com a sociedade nacional. De forma coerente com os seus princípios, manteve-se firme na defesa da terra, da saúde, da educação e de projetos de desenvolvimento agrícola. Duas características destacam-se em sua atuação política: o compromisso firme com as causas dos povos indígenas e a habilidade na condução dos conflitos e negociação com os seus interlocutores.
Avaliando a sua história de vida, como esposo dedicado, pai carinhoso e militante dócil, Gecivaldo deixa um legado de experiência para os presentes e para as futuras gerações. No seio familiar, preparou o filho Gecinaldo Xucuru, professor e liderança indígena, para continuar o seu legado. Observa-se que, com o pai ele aprendeu o compromisso com a defesa dos direitos indígenas e a firmeza na retomada da terra, memória que, junto com os seus parentes e aliados, o dará força e habilidade política na condução das lutas Xucuru-Kariri e dos povos indígenas do Brasil.
Os povos indígenas do Brasil perdem um líder, especialmente o povo Xucuru-Kariri, como tantos outros que voltaram para o seio da Mãe Terra, mas ganharam a memória de um herói vencedor e um ente mítico que entra no mundo sagrado da cosmologia espiritual no Reino dos Encantados, de onde irá dirigir e conduzir a vida e as lutas do povo Xucuru-Kariri.