Hoje dia 25 de Outubro aconteceu a primeira reunião do coletivo da RECID Agreste,onde aconteceu na sede do Movimento Prol Desenvolvimento Comunitário na Cidade de Palmeira dos Índios.Tivemos como participantes da reunião as seguintes organizações: MPA,MPDC,LAR DA CRIANÇA,MTC,POVO INDÍGENA XUCURU KARIRI,COMUNIDADE VILA AREAL.
Tivemos como pauta:
*Mística
*Histórico da RECID e Avaliação das ações da RECID na Região
*Planejamento das ações do Agreste
*Escolhas dos representantes para o Coletivo Estadual e Coletivo de Comunicação
*Curso de Formação
Suyane de souza Tenório.
RECID-AGRESTE
terça-feira, 25 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Forró eletrônico: Festa, amor e sexo
Cultura
Nova roupagem do gênero popularizado por Luiz Gonzaga é fenômeno da indústria cultural no Nordeste
03/10/2011
Thalles Gomes,
de Maceió (AL)
Nos primeiros quinze dias de setembro serão doze apresentações em nove estados diferentes, começando por Rio Grande do Norte e passando por Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Acre, Rondônia e Pará, de onde partirão rumo a Alagoas para dois shows numa mesma noite, em Maceió e Anadia. Rotina comum para os integrantes da banda Aviões do Forró que, nos últimos sete meses, realizou 148 apresentações, uma média de mais de 21 espetáculos por mês.
Foto: Thalles Gomes
Não se trata de caso isolado. Se somarmos os compromissos de outras cincobandas do gênero, ultrapassaremos a casa dos 110 shows somente no mês de setembro. De fato, as apresentações de forró eletrônico ocorrem por todo o território nordestino em todas as épocas do ano. E não é de hoje que vêm avançando para outras regiões e, inclusive, continentes – no início desse ano, a banda Aviões do Forró fez sua segunda turnê européia, com apresentações em Amsterdã, Zurique e Porto. Surgido no início dos anos 1990, o forró eletrônico se propôs a modernizar o universo do forró tradicional difundido e consolidado em todo o Brasil por Luiz Gonzaga, Sivuca, Dominguinhos e Trio Nordestino. Essa modernização buscava aproximar o forró da música pop nacional e internacional.
Para tanto, zabumba e triângulo perderam espaço para baixo, bateria, metais e teclado. A sanfona foi mantida, no intuito de preservar o DNA musical, mas sua importância sonora foi reduzida.
A mudança mais significativa, entretanto, seria na temática. Buscando superar o referencial nostálgico e sertanejo característico do forró tradicional, as letras das bandas de forró eletrônico incorporaram o urbano, o sensual, o duplo sentido, a diversão. “O eletrônico canta o urbano, o jovem e está constantemente em busca de festa, diversão, alegria e sexo, com amor ou sem amor”, completa o professor da UFPE, Felipe Trotta. Para ele, a temática do forró eletrônico pode ser resumida no trinômio festa, amor e sexo.
“Nossas músicas falam mais de amor, não do sertão como os forrós de antigamente, para fazer uma reciclagem do público, acompanhando as gerações e falando a mesma língua da galera”, confirma Carlos Aristides, um dos empresários da Aviões do Forró.
E é justamente no espaço da festa que as bandas de forró eletrônico melhor expressam sua sonoridade e temática, conquistando público cada vez maior. Mesmo com boa vendagem de discos e presença constante nas rádios – são duas músicas do gênero por hora, de acordo com pesquisa feita por Paulo Camêllo nas três maiores emissoras de Recife em 2008 – são nos shows que a experiência musical do forró eletrônico se concretiza e fortalece.
Repletas de brilho e iluminação, com equipamentos de ponta e dezenas de dançarinos reforçando a sensualidade das músicas, as apresentações destas bandas se tornaram cada vez mais disputadas, não perdendo em grandiloquência e público para shows de artistas nacionais e internacionais – até porque, os grandes hits estrangeiros costumam ganhar versão dançante em português. Aviões do Forró, por exemplo, reuniu mais de 70 mil pessoas em Salvador para a gravação de seu DVD lançado em abril deste ano.
Felipe Trotta explica que os empresários e produtores deste nicho investem cada vez mais no que ele chama de economia da experiência e da performance, “um sistema comercial no qual o consumidor paga não para adquirir um produto ou um serviço, mas para passar algum tempo participando de uma série de eventos memoráveis, o que se torna algo único e altamente lucrativo”.
Empresários ao centro
De fato, os empresários têm papel central no universo do forró eletrônico. Controlam não somente o planejamento comercial e as estratégicas de divulgação, mas a própria construção do estilo, a escolha do nome e os integrantes da banda. No forró eletrônico, todos os músicos são trabalhadores contratados, inclusive os cantores.
Desde os primórdios do gênero esse modelo impera – a primeira banda de forró eletrônico, Mastruz com Leite, foi organizada pelo empresário Emanoel Gurgel. Atualmente, a principal empresa do setor é a A3 Entretenimento.
Capitaneada pelos empresários Carlos Aristides, Zequinha Aristides, Isaias Duarte e Cláudio Melo, a A3 Entretenimento surgiu em 2006 no estado do Ceará e, de acordo com informações de seu site oficial, “atua como um conglomerado de empresas que objetiva atuar na promoção de eventos e bandas”. Reúne em seu “casting” as bandas Aviões do Forró, Forró do Miúdo, Forró dos Plays, Solteirões do Forró, Forró Balancear, Chicabana, Boca a Boca, A Comandante e Forró Pé de Ouro. Além disso, fazem parte da empresa cinco casas de show e duas emissoras de rádio.
Esse caráter forjado, somado à temática erotizante e a sonoridade pasteurizada são os principais argumentos dos que criticam o forró eletrônico e veem nele um desvirtuamento da cultura e identidade nordestina.
Nesta linha, causou polêmica a atitude do secretário de cultura da Paraíba, Chico César, ao declarar às vésperas dos festejos juninos deste ano que o estado não iria “contratar nem pagar grupos musicais e artistas cujos estilos nada têm a ver com a herança da tradição musical nordestina, cujo ápice se dá no período junino”. O secretário paraibano argumentou que “não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco”. E completou: “Nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso”.
Para além da discussão sobre as prioridades do financiamento público, há na atitude de Chico César uma posição implícita acerca da identidade e cultura nordestina, reverberada por outros artistas e intelectuais preocupados com uma possível degeneração e sepultamento de certos valores e tradições regionais.
Entretanto, mais do que aceitar ou negar a legitimidade do forró eletrônico como gênero musical, trata-se de compreender as razões e estratégias de sua ascensão e sucesso. E para isso, é preciso ir mais além dos debates sobre gosto ou qualidade musical e desvendar as mudanças socioeconômicas pelas quais passou a região nas últimas décadas.
Ao construir um universo musical direcionado a um público jovem e urbano, copiando e recriando os elementos do imaginário da cultura pop transnacional, os empresários do forró eletrônico criaram uma resposta da indústria cultural a um processo de urbanização e empoderamento monetário que teve início nos anos 80 em todo o Nordeste.
Sem “sofrimento”
De acordo com dados do IBGE, em 1980 a população nordestina estava dividida quase que por igual em urbana (50,7%) e rural (49,3%). Desde então, o ritmo de urbanização da região superou a média das regiões mais desenvolvidas do país. Em 1990, a população urbana já chegava a 60,6%, passando para 69% na virada do século, até chegar aos atuais 73,1%, de acordo com o Censo 2010.
Trata-se, dessa forma, de uma população urbana e jovem - de acordo com o mesmo IBGE, 50% da população nordestina têm menos de 30 anos. Se somarmos essa urbanização tardia ao fato de que nos últimos anos há um aquecimento da economia local, com aumento da renda dos assalariados e elevação de consumo entre as classes C e D, teremos um quadro socioeconômico que ajuda a entender a preferência de boa parte do público pelo estilizado e moderno do forró eletrônico, em detrimento do saudosismo rural do forró tradicional.
Os empresários da A3 Entretenimento parecem ter compreendido e aproveitado como ninguém essas mudanças. Em seu site oficial, ao falar da banda Aviões do Forró, eles explicam que “as letras trazem uma linguagem diferente do forró clássico, se distanciando de temas como o sofrimento do nordestino. Mas não esquecem as raízes do ritmo, tendo como referência músicos como Luiz Gonzaga. O repertório popular atinge um público jovem por falar sobre relações amorosas, sem deixar de lado o ritmo dançante e animado”.
Nova roupagem do gênero popularizado por Luiz Gonzaga é fenômeno da indústria cultural no Nordeste
03/10/2011
Thalles Gomes,
de Maceió (AL)
Nos primeiros quinze dias de setembro serão doze apresentações em nove estados diferentes, começando por Rio Grande do Norte e passando por Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Acre, Rondônia e Pará, de onde partirão rumo a Alagoas para dois shows numa mesma noite, em Maceió e Anadia. Rotina comum para os integrantes da banda Aviões do Forró que, nos últimos sete meses, realizou 148 apresentações, uma média de mais de 21 espetáculos por mês.
Foto: Thalles Gomes
Não se trata de caso isolado. Se somarmos os compromissos de outras cincobandas do gênero, ultrapassaremos a casa dos 110 shows somente no mês de setembro. De fato, as apresentações de forró eletrônico ocorrem por todo o território nordestino em todas as épocas do ano. E não é de hoje que vêm avançando para outras regiões e, inclusive, continentes – no início desse ano, a banda Aviões do Forró fez sua segunda turnê européia, com apresentações em Amsterdã, Zurique e Porto. Surgido no início dos anos 1990, o forró eletrônico se propôs a modernizar o universo do forró tradicional difundido e consolidado em todo o Brasil por Luiz Gonzaga, Sivuca, Dominguinhos e Trio Nordestino. Essa modernização buscava aproximar o forró da música pop nacional e internacional.
Para tanto, zabumba e triângulo perderam espaço para baixo, bateria, metais e teclado. A sanfona foi mantida, no intuito de preservar o DNA musical, mas sua importância sonora foi reduzida.
A mudança mais significativa, entretanto, seria na temática. Buscando superar o referencial nostálgico e sertanejo característico do forró tradicional, as letras das bandas de forró eletrônico incorporaram o urbano, o sensual, o duplo sentido, a diversão. “O eletrônico canta o urbano, o jovem e está constantemente em busca de festa, diversão, alegria e sexo, com amor ou sem amor”, completa o professor da UFPE, Felipe Trotta. Para ele, a temática do forró eletrônico pode ser resumida no trinômio festa, amor e sexo.
“Nossas músicas falam mais de amor, não do sertão como os forrós de antigamente, para fazer uma reciclagem do público, acompanhando as gerações e falando a mesma língua da galera”, confirma Carlos Aristides, um dos empresários da Aviões do Forró.
E é justamente no espaço da festa que as bandas de forró eletrônico melhor expressam sua sonoridade e temática, conquistando público cada vez maior. Mesmo com boa vendagem de discos e presença constante nas rádios – são duas músicas do gênero por hora, de acordo com pesquisa feita por Paulo Camêllo nas três maiores emissoras de Recife em 2008 – são nos shows que a experiência musical do forró eletrônico se concretiza e fortalece.
Repletas de brilho e iluminação, com equipamentos de ponta e dezenas de dançarinos reforçando a sensualidade das músicas, as apresentações destas bandas se tornaram cada vez mais disputadas, não perdendo em grandiloquência e público para shows de artistas nacionais e internacionais – até porque, os grandes hits estrangeiros costumam ganhar versão dançante em português. Aviões do Forró, por exemplo, reuniu mais de 70 mil pessoas em Salvador para a gravação de seu DVD lançado em abril deste ano.
Felipe Trotta explica que os empresários e produtores deste nicho investem cada vez mais no que ele chama de economia da experiência e da performance, “um sistema comercial no qual o consumidor paga não para adquirir um produto ou um serviço, mas para passar algum tempo participando de uma série de eventos memoráveis, o que se torna algo único e altamente lucrativo”.
Empresários ao centro
De fato, os empresários têm papel central no universo do forró eletrônico. Controlam não somente o planejamento comercial e as estratégicas de divulgação, mas a própria construção do estilo, a escolha do nome e os integrantes da banda. No forró eletrônico, todos os músicos são trabalhadores contratados, inclusive os cantores.
Desde os primórdios do gênero esse modelo impera – a primeira banda de forró eletrônico, Mastruz com Leite, foi organizada pelo empresário Emanoel Gurgel. Atualmente, a principal empresa do setor é a A3 Entretenimento.
Capitaneada pelos empresários Carlos Aristides, Zequinha Aristides, Isaias Duarte e Cláudio Melo, a A3 Entretenimento surgiu em 2006 no estado do Ceará e, de acordo com informações de seu site oficial, “atua como um conglomerado de empresas que objetiva atuar na promoção de eventos e bandas”. Reúne em seu “casting” as bandas Aviões do Forró, Forró do Miúdo, Forró dos Plays, Solteirões do Forró, Forró Balancear, Chicabana, Boca a Boca, A Comandante e Forró Pé de Ouro. Além disso, fazem parte da empresa cinco casas de show e duas emissoras de rádio.
Esse caráter forjado, somado à temática erotizante e a sonoridade pasteurizada são os principais argumentos dos que criticam o forró eletrônico e veem nele um desvirtuamento da cultura e identidade nordestina.
Nesta linha, causou polêmica a atitude do secretário de cultura da Paraíba, Chico César, ao declarar às vésperas dos festejos juninos deste ano que o estado não iria “contratar nem pagar grupos musicais e artistas cujos estilos nada têm a ver com a herança da tradição musical nordestina, cujo ápice se dá no período junino”. O secretário paraibano argumentou que “não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco”. E completou: “Nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso”.
Para além da discussão sobre as prioridades do financiamento público, há na atitude de Chico César uma posição implícita acerca da identidade e cultura nordestina, reverberada por outros artistas e intelectuais preocupados com uma possível degeneração e sepultamento de certos valores e tradições regionais.
Entretanto, mais do que aceitar ou negar a legitimidade do forró eletrônico como gênero musical, trata-se de compreender as razões e estratégias de sua ascensão e sucesso. E para isso, é preciso ir mais além dos debates sobre gosto ou qualidade musical e desvendar as mudanças socioeconômicas pelas quais passou a região nas últimas décadas.
Ao construir um universo musical direcionado a um público jovem e urbano, copiando e recriando os elementos do imaginário da cultura pop transnacional, os empresários do forró eletrônico criaram uma resposta da indústria cultural a um processo de urbanização e empoderamento monetário que teve início nos anos 80 em todo o Nordeste.
Sem “sofrimento”
De acordo com dados do IBGE, em 1980 a população nordestina estava dividida quase que por igual em urbana (50,7%) e rural (49,3%). Desde então, o ritmo de urbanização da região superou a média das regiões mais desenvolvidas do país. Em 1990, a população urbana já chegava a 60,6%, passando para 69% na virada do século, até chegar aos atuais 73,1%, de acordo com o Censo 2010.
Trata-se, dessa forma, de uma população urbana e jovem - de acordo com o mesmo IBGE, 50% da população nordestina têm menos de 30 anos. Se somarmos essa urbanização tardia ao fato de que nos últimos anos há um aquecimento da economia local, com aumento da renda dos assalariados e elevação de consumo entre as classes C e D, teremos um quadro socioeconômico que ajuda a entender a preferência de boa parte do público pelo estilizado e moderno do forró eletrônico, em detrimento do saudosismo rural do forró tradicional.
Os empresários da A3 Entretenimento parecem ter compreendido e aproveitado como ninguém essas mudanças. Em seu site oficial, ao falar da banda Aviões do Forró, eles explicam que “as letras trazem uma linguagem diferente do forró clássico, se distanciando de temas como o sofrimento do nordestino. Mas não esquecem as raízes do ritmo, tendo como referência músicos como Luiz Gonzaga. O repertório popular atinge um público jovem por falar sobre relações amorosas, sem deixar de lado o ritmo dançante e animado”.
Reprocessamento da identidade nordestina
Cultura
“No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador”
03/10/2011
Thalles Gomes,
de Maceió (AL)
Doutor em comunicação e cultura pela UFRJ e professor da UFPE, Felipe Trotta vem desenvolvendo nos últimos anos pesquisas sobre o universo do forró contemporâneo no Nordeste brasileiro. Em entrevista ao Brasil de Fato, Trotta destrincha os elementos principais para compreender a ascensão e sucesso do forró eletrônico na cultura nordestina.
Brasil de Fato – Qual a definição para o forró eletrônico? Como ele surgiu e o que o caracteriza como gênero musical?
Felipe Trotta – O forró eletrônico opera como uma espécie de variante do forró tradicional. Intencionalmente, as bandas fundadoras (Mastruz com Leite, Magníficos, Limão com Mel etc.) buscavam negar o referencial saudosista e rural do forró tradicional. Assim, incorporaram instrumentos e estilos de performance e interpretação que se aproximavam do pop internacional.
Como se constrói uma banda de forró eletrônico? Qual o papel exercido pelos empresários?
Os empresários foram os protagonistas da criação das bandas, e isso é alvo de muitas críticas. A rigor, a parte artística é decidida quase integralmente por eles, salvo raras exceções. Quase sempre os empresários são músicos de estúdio e fazem uma função que nas grandes gravadoras era do produtor artístico: adequar estética e mercado na esfera da criação. No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador, como os músicos das bandas de artistas consagrados. A diferença é que os cantores também são contratados.
Quais os temas mais recorrentes no universo do forró eletrônico?
Festa, amor e sexo. A temática é semelhante à do forró tradicional, com exceção dos aspectos ligados à ruralidade, à saudade. O eletrônico canta o urbano, o jovem e está constantemente em busca de festa, diversão, alegria e sexo, com amor ou sem amor (dependendo da música). O ambiente é altamente erotizado, mas a ideia de festa se sobrepõe, numa atmosfera de informalidade (como o forró tradicional).
Quais são os padrões de comportamento e visão de mundo presentes no universo do forró eletrônico?
O principal é o aspecto jovem da vertente eletrônica. Enquanto o forró tradicional é uma festa regulada moralmente pela esfera da família (o dono da festa, o patriarca, o pai controlam o andamento da festa), o eletrônico é uma festa que ocorre fora da opressão da moral familiar, pelo menos no terreno do imaginário. Assim, pode ser mais licencioso e operar nas frestas e nos limites do vocabulário, danças e modos de relação social.
Quem é o público que consome o forró eletrônico?
Prioritariamente jovens urbanos nordestinos. A identidade nordestina é um elemento muito importante do forró, e o eletrônico funciona como um reprocessamento dessa identidade rural tradicional, refletindo um Nordeste cosmopolita, urbano e antenado com as tendências estéticas do mundo pop transnacional.
“No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador”
03/10/2011
Thalles Gomes,
de Maceió (AL)
Doutor em comunicação e cultura pela UFRJ e professor da UFPE, Felipe Trotta vem desenvolvendo nos últimos anos pesquisas sobre o universo do forró contemporâneo no Nordeste brasileiro. Em entrevista ao Brasil de Fato, Trotta destrincha os elementos principais para compreender a ascensão e sucesso do forró eletrônico na cultura nordestina.
Brasil de Fato – Qual a definição para o forró eletrônico? Como ele surgiu e o que o caracteriza como gênero musical?
Felipe Trotta – O forró eletrônico opera como uma espécie de variante do forró tradicional. Intencionalmente, as bandas fundadoras (Mastruz com Leite, Magníficos, Limão com Mel etc.) buscavam negar o referencial saudosista e rural do forró tradicional. Assim, incorporaram instrumentos e estilos de performance e interpretação que se aproximavam do pop internacional.
Como se constrói uma banda de forró eletrônico? Qual o papel exercido pelos empresários?
Os empresários foram os protagonistas da criação das bandas, e isso é alvo de muitas críticas. A rigor, a parte artística é decidida quase integralmente por eles, salvo raras exceções. Quase sempre os empresários são músicos de estúdio e fazem uma função que nas grandes gravadoras era do produtor artístico: adequar estética e mercado na esfera da criação. No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador, como os músicos das bandas de artistas consagrados. A diferença é que os cantores também são contratados.
Quais os temas mais recorrentes no universo do forró eletrônico?
Festa, amor e sexo. A temática é semelhante à do forró tradicional, com exceção dos aspectos ligados à ruralidade, à saudade. O eletrônico canta o urbano, o jovem e está constantemente em busca de festa, diversão, alegria e sexo, com amor ou sem amor (dependendo da música). O ambiente é altamente erotizado, mas a ideia de festa se sobrepõe, numa atmosfera de informalidade (como o forró tradicional).
Quais são os padrões de comportamento e visão de mundo presentes no universo do forró eletrônico?
O principal é o aspecto jovem da vertente eletrônica. Enquanto o forró tradicional é uma festa regulada moralmente pela esfera da família (o dono da festa, o patriarca, o pai controlam o andamento da festa), o eletrônico é uma festa que ocorre fora da opressão da moral familiar, pelo menos no terreno do imaginário. Assim, pode ser mais licencioso e operar nas frestas e nos limites do vocabulário, danças e modos de relação social.
Quem é o público que consome o forró eletrônico?
Prioritariamente jovens urbanos nordestinos. A identidade nordestina é um elemento muito importante do forró, e o eletrônico funciona como um reprocessamento dessa identidade rural tradicional, refletindo um Nordeste cosmopolita, urbano e antenado com as tendências estéticas do mundo pop transnacional.
ADEUS A EURUPA
O mundo virou de cabeça pra baixo. Europa e EUA, juntos, não haverão de crescer, em 2012, mais de 1,9%
06/07/2011
Frei Betto
Lembram-se da Europa resplandecente dos últimos 20 anos, do luxo das avenidas do Champs-Élysées, em Paris, ou da Knightsbridge, em Londres? Lembram-se do consumismo exagerado, dos eventos da moda em Milão, das feiras de Barcelona e da sofisticação dos carros alemães?
Tudo isso continua lá, mas já não é a mesma coisa. As cidades europeias são, hoje, caldeirões de etnias. A miséria empurrou milhões de africanos para o velho continente em busca de sobrevivência; o Muro de Berlim, ao cair, abriu caminho para os jovens do Leste europeu buscarem, no Oeste, melhores oportunidades de trabalho; as crises no Oriente Médio favorecem hordas de novos imigrantes.
A crise do capitalismo, iniciada em 2008, atinge fundo a Europa Ocidental. Irlanda, Portugal e Grécia, países desenvolvidos em plena fase de subdesenvolvimento, estendem seus pires aos bancos estrangeiros e se abrigam sob o implacável guarda-chuva do FMI.
O trem descarrilou. A locomotiva – os EUA – emperrou, não consegue retomar sua produtividade e atola-se no crescimento do desemprego. Os vagões europeus, como a Itália, tombam sob o peso de dívidas astronômicas. A festa acabou.
Previa-se que a economia global cresceria, nos próximos dois anos, de 4,3% a 4,5%. Agora o FMI adverte: preparem-se, apertem os cintos, pois não passará de 4%. Saudades de 2010, quando cresceu 5,1%.
O mundo virou de cabeça pra baixo. Europa e EUA, juntos, não haverão de crescer, em 2012, mais de 1,9%. Já os países emergentes deverão avançar de 6,1% a 6,4%. Mas não será um crescimento homogêneo. A China, para inveja do resto do mundo, deverá avançar 9,5%. O Brasil, 3,8%.
Embora o FMI evite falar em recessão, já não teme admitir estagnação. O que significa proliferação do desemprego e de todos os efeitos nefastos que ele gera. Há hoje, nos 27 países da União Europeia, 22,7 milhões de desempregados. Os EUA deverão crescer apenas 1% e, em 2012, 0,9%. Muitos brasileiros, que foram para lá em busca de vida melhor, estão de volta.
Frente à crise de um sistema econômico que aprendeu a acumular dinheiro mas não a produzir justiça, o FMI, que padece de crônica falta de imaginação, tira da cartola a receita de sempre: ajuste fiscal, o que significa cortar gastos do governo, aumentar impostos, reduzir o crédito etc. Nada de subsídios, de aumentos de salários, de investimentos que não sejam estritamente necessários.
Resultado: o capital volátil, a montanha de dinheiro que circula pelo planeta em busca de multiplicação especulativa, deverá vir de armas e bagagens para os países emergentes. Portanto, estes que se cuidem para evitar o superaquecimento de suas economias. E, por favor, clama o FMI, não reduzam muito os juros, para não prejudicar o sistema financeiro e os rendimentos do cassino da especulação.
O fato é que a zona do euro entrou em pânico. A ponto de os governos, sem risco de serem acusados de comunismo, se prepararem para taxar as grandes fortunas. Muitos países se perguntam se não cometeram uma monumental burrada ao abrir mão de suas moedas nacionais para aderir ao euro. Olham com inveja para o Reino Unido e a Suíça, que preservam suas moedas.
A Grécia, endividada até o pescoço, o que fará? Tudo indica que a sua melhor saída será decretar moratória (afetando diretamente bancos alemães e franceses) e pular fora do euro. Quem cair fora do euro terá de abandonar a União Europeia. E, portanto, fi car à margem do atual mercado unificado. Ora, quando os primeiros sintomas dessa deserção aparecerem, vai ser um deus nos acuda: corrida aos saques bancários, quebra de empresas, desemprego crônico, turbas de emigrantes em busca de, sabe Deus onde, um lugar ao sol.
Nos anos de 1980, a Europa decretou a morte do Estado de bem-estar social. Cada um por si e Deus por ninguém. O consumismo desenfreado criou a ilusão de prosperidade perene. Agora a bancarrota obriga governos e bancos a pôr as barbas de molho e repensar o atual modelo econômico mundial, baseado na ingênua e perversa crença da acumulação infinita.
06/07/2011
Frei Betto
Lembram-se da Europa resplandecente dos últimos 20 anos, do luxo das avenidas do Champs-Élysées, em Paris, ou da Knightsbridge, em Londres? Lembram-se do consumismo exagerado, dos eventos da moda em Milão, das feiras de Barcelona e da sofisticação dos carros alemães?
Tudo isso continua lá, mas já não é a mesma coisa. As cidades europeias são, hoje, caldeirões de etnias. A miséria empurrou milhões de africanos para o velho continente em busca de sobrevivência; o Muro de Berlim, ao cair, abriu caminho para os jovens do Leste europeu buscarem, no Oeste, melhores oportunidades de trabalho; as crises no Oriente Médio favorecem hordas de novos imigrantes.
A crise do capitalismo, iniciada em 2008, atinge fundo a Europa Ocidental. Irlanda, Portugal e Grécia, países desenvolvidos em plena fase de subdesenvolvimento, estendem seus pires aos bancos estrangeiros e se abrigam sob o implacável guarda-chuva do FMI.
O trem descarrilou. A locomotiva – os EUA – emperrou, não consegue retomar sua produtividade e atola-se no crescimento do desemprego. Os vagões europeus, como a Itália, tombam sob o peso de dívidas astronômicas. A festa acabou.
Previa-se que a economia global cresceria, nos próximos dois anos, de 4,3% a 4,5%. Agora o FMI adverte: preparem-se, apertem os cintos, pois não passará de 4%. Saudades de 2010, quando cresceu 5,1%.
O mundo virou de cabeça pra baixo. Europa e EUA, juntos, não haverão de crescer, em 2012, mais de 1,9%. Já os países emergentes deverão avançar de 6,1% a 6,4%. Mas não será um crescimento homogêneo. A China, para inveja do resto do mundo, deverá avançar 9,5%. O Brasil, 3,8%.
Embora o FMI evite falar em recessão, já não teme admitir estagnação. O que significa proliferação do desemprego e de todos os efeitos nefastos que ele gera. Há hoje, nos 27 países da União Europeia, 22,7 milhões de desempregados. Os EUA deverão crescer apenas 1% e, em 2012, 0,9%. Muitos brasileiros, que foram para lá em busca de vida melhor, estão de volta.
Frente à crise de um sistema econômico que aprendeu a acumular dinheiro mas não a produzir justiça, o FMI, que padece de crônica falta de imaginação, tira da cartola a receita de sempre: ajuste fiscal, o que significa cortar gastos do governo, aumentar impostos, reduzir o crédito etc. Nada de subsídios, de aumentos de salários, de investimentos que não sejam estritamente necessários.
Resultado: o capital volátil, a montanha de dinheiro que circula pelo planeta em busca de multiplicação especulativa, deverá vir de armas e bagagens para os países emergentes. Portanto, estes que se cuidem para evitar o superaquecimento de suas economias. E, por favor, clama o FMI, não reduzam muito os juros, para não prejudicar o sistema financeiro e os rendimentos do cassino da especulação.
O fato é que a zona do euro entrou em pânico. A ponto de os governos, sem risco de serem acusados de comunismo, se prepararem para taxar as grandes fortunas. Muitos países se perguntam se não cometeram uma monumental burrada ao abrir mão de suas moedas nacionais para aderir ao euro. Olham com inveja para o Reino Unido e a Suíça, que preservam suas moedas.
A Grécia, endividada até o pescoço, o que fará? Tudo indica que a sua melhor saída será decretar moratória (afetando diretamente bancos alemães e franceses) e pular fora do euro. Quem cair fora do euro terá de abandonar a União Europeia. E, portanto, fi car à margem do atual mercado unificado. Ora, quando os primeiros sintomas dessa deserção aparecerem, vai ser um deus nos acuda: corrida aos saques bancários, quebra de empresas, desemprego crônico, turbas de emigrantes em busca de, sabe Deus onde, um lugar ao sol.
Nos anos de 1980, a Europa decretou a morte do Estado de bem-estar social. Cada um por si e Deus por ninguém. O consumismo desenfreado criou a ilusão de prosperidade perene. Agora a bancarrota obriga governos e bancos a pôr as barbas de molho e repensar o atual modelo econômico mundial, baseado na ingênua e perversa crença da acumulação infinita.
REVITALIZAÇÃO X TRANSPOSIÇÃO: O DILEMA DO SÃO FRANCISCO CONTINUA
O Rio São Francisco completa hoje 510 anos de seu “batismo”. O Opará dos indígenas – “rio-mar” ou “sem paradeiro definido” – tornou-se ao longo dos séculos “rio dos currais” e “rio da integração nacional”, gerador de energia elétrica e grande pólo de irrigação agrícola. Nos últimos 70 anos, intensificaram-se as produções de riquezas em suas margens e em seus biomas formadores (cerrado, mata atlântica e caatinga). Em conseqüência, as degradações várias e cumulativas chegaram ao ponto do quase esgotamento do seu complexo de vida. Foi de 35% a perda de sua vazão nos 56 anos entre 1948 e 2004, segundo o Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR – Colorado / EUA), a mais grave entre os maiores rios do mundo. Os maiores impactos recaem sobre a população pobre da Bacia Hidrográfica. Mais que sobreviver, ela resiste, toma iniciativas e cobra uma revitalização real já! É quase só isso o que se tem a celebrar hoje!
A Articulação Popular São Francisco Vivo - SFVivo, que congrega cerca de 300 entidades sociais da Bacia, entre movimentos, associações, sindicatos, pastorais e ONGs, vem a público e perante as autoridades para denunciar a continuidade dos desmandos contra o rio e seu povo; e convocar todos e todas a se unirem em iniciativas concretas em defesa da vida que ainda resta no São Francisco – Terra e Água, Rio e Povo.
Quatro anos depois de iniciado o projeto de transposição para o Nordeste chamado Setentrional, as principais críticas ao projeto já se revelam verdadeiras. A revitalização da Bacia, tarefa imensa, cobrada há tempos, veio num programa governamental mínimo como “moeda de troca” pela transposição, e se arrasta incompleta, insuficiente, sob suspeitas de corrupção, sujeita ao jogo dos interesses político-eleitorais. Pensa-se encobrir as evidências com eventos festivos e shows de artistas famosos durante esta semana, em algumas cidades ribeirinhas, sob o slogan de “São Francisco Vive”, cópia mal intencionada da divisa de nossa Articulação. Pretender com marketing “resolver” a grave situação do Velho Chico é tripudiar sobre a sorte de milhões de pessoas e um inúmero conjunto de espécies e formas de vida
Transposição: obras confirmam críticas
Nossas críticas e alertas quanto à transposição, feitas por organizações da sociedade civil e cientistas isentos, que sempre contestamos a obra e suas razões, já se comprovaram:
1. A obra seria muito mais cara que o previsto: de 5 bilhões iniciais já estão reajustadas em 6,8 bilhões, um aditivo de 1,8 bilhões, 36% em média. Há lotes ainda não re-licitados, o que vai onerar ainda mais o preço final.
2. Não atenderia a população mais necessitada: efetivamente, não pôs uma gota d’água para nenhum necessitado; antes desmantelou a produção agrícola local por onde passou.
3. O custo da água seria inviável: hoje o governo reconhece que o metro cúbico valerá cerca de R$ 0,13 (poderá ser ainda bem maior), seis vezes maior que às margens do São Francisco, onde muitos irrigantes estão inadimplentes por dívidas com os sistemas de água. Para ser economicamente viável, este preço terá que ser subsidiado, e é certo que o povo pagará a conta;
4. Impactaria comunidades indígenas e quilombolas: comunidades quilombolas impactadas são 50 e povos indígenas nove. As demarcações de seus territórios foram emperradas, seus patrimônios destruídos. No caso dos Truká, em Cabrobó – PE, em cuja área o Exército iniciou o Eixo Norte, o território já identificado é demarcado se aceitarem as obras. No caso dos Tumbalalá, em Curaçá e Abaré – BA, na outra margem, se aceitarem a barragem de Pedra Branca. Ainda não foram demarcados pela FUNAI os territórios Pipipã e Kambiwá, a serem cortados ao meio pelos futuros canais, ao pé da Serra Negra, em Pernambuco, monumento natural e sagrado de vários povos. Muitas destas comunidades ainda resistem. O povoado e o assentamento de reforma agrária em Serra Negra não admitem a execução das obras em seu espaço.
5. Destruiria o meio ambiente: grandes porções da caatinga foram desmatadas. Inventário florestal levantou mais de mil espécies vegetais somente no Eixo Leste.
6. Empregos precários e temporários: como sintetizou o cacique Neguinho Truká, “os empregos foram temporários, os problemas são permanentes”. Em Cabrobó, nada restou da prometida dinamização econômica, só decepção e revolta. Nas cidades onde a obra passou ficou um rastro de comércio desorganizado, casas vazias, gente desempregada, adolescentes grávidas...
7. Arrastadas no tempo, a obra se presta a “transpor” votos e recursos: não debela, antes realimenta a “indústria política da seca”. Nova precisão de data para conclusão: 2014! Vem mais uma eleição aí, em 2012, outra em 2014...
8. Faltam duas das conseqüências graves a serem totalmente comprovadas, que só teremos certeza se a obra chegar ao fim: vai impactar ainda mais o rio São Francisco e não vai levar água para os necessitados do Nordeste Setentrional. Enfim, a água da Transposição é para o agro-hidronegócios e pólos industriais do Pecém (CE) e Suape (PE).
Portanto, mantemos a crítica ao projeto. O governo reconhece oficialmente que cinco lotes estão parados e os nove restantes estão em ritmo lento. Já foram gastos 3,5 bilhões de reais na obra. Alegam que a obra “começou sem ter qualquer projeto executivo”, pelo que se deveriam prever custos... Já é longo o histórico de problemas do projeto, seguidas vezes suspenso ou sob suspeição do Tribunal de Contas da União. A pressa era eleitoral, o retardo é venal!
A título de comparação, pensando em menos custos, mais eficiência e eficácia, com esse dinheiro poderiam ter sido feitas 2.187.500 cisternas, beneficiando uma população total de 11 milhões de pessoas.
Em outra opção, com esses recursos, segundo a Agência Nacional de Águas - ANA, poderiam ter sido custeadas mais de 1/3 das adutoras previstas para o Nordeste não entrar em colapso hídrico até 2025. Portanto, já teria beneficiado seguramente 12.883.333. Com metade dos recursos da transposição, já teria sido beneficiada mais gente que a obra promete atender, ou seja, 12 milhões de pessoas. Entretanto, nenhuma dessas adutoras está em andamento!
Com o programa “Água para Todos”, o governo Dilma intensificou o programa de cisternas para abastecer a população difusa com mais 800 mil unidades. É um tácito reconhecimento de que as propostas da sociedade civil eram as mais corretas para abastecimento doméstico da população. E de que a transposição não é para matar a sede de 12 milhões!
Ainda há tempo de preparar a região para o presente e o futuro em termos de segurança hídrica. Segundo o Atlas Nordeste da ANA seriam necessários pouco menos de R$ 10 bilhões para abastecimento urbano de 39 milhões de pessoas em 1794 cidades dos nos nove estados da região. Obras que a despeito da transposição terão que ser feitas.
O aquecimento global poderá significar para o semiárido quase o dobro de aumento da temperatura em outras regiões. Não é aconselhável expandir os negócios intensivos em água e solos, ainda que sejam agora altamente lucrativos, com subsídios públicos e demandas crescentes do mercado global. É uma escolha política, não uma sina econômica.
Revitalização paliativa
O programa governamental de revitalização em nada foi melhorado. Continua setorial e desconexo, longe das causas estruturais dos processos de degradação sócio-ambiental da Bacia. Reduz-se a obras de saneamento básico e ambiental, melhoria da navegabilidade e recuperação de matas ciliares. Avançou um pouco mais nas primeiras, mas como muitos problemas como se verá, e quase nada nestas últimas. Em se tratando de transposição e revitalização, dois são os pesos e duas as medidas.
Numa falsa abertura à participação da sociedade coletou mais de 300 propostas, a maioria das quais o Ministério da Integração descartou por não apresentarem ou não se transformarem em projetos exeqüíveis, dentro dos marcos legais... Está-se a sugerir que a sociedade é a culpada por não se recuperar seu rio?
A título de Programa de Revitalização do Rio São Francisco – PRSF incluem-se todas as ações possíveis do governo federal, de vários setores, muitas em parcerias com os governos estaduais da Bacia, de modo a inflar as aparências. Nos períodos eleitorais temos assistido como se decidem as destinações de verbas, para os mais variados fins... E não há transparência, não se tem como saber muito menos acompanhar o andamento das ações.
No site do Ministério da Integração os dados estão desatualizados. Falam de aplicados R$ 194,6 milhões entre 2004-2007 e da “previsão” de R$ 1,2 bilhões no PAC – Plano de Aceleração do Crescimento 2007-2010. No caso do “esgotamento sanitário” seriam atendidos todos os 102 municípios da calha do rio. O último relatório do programa disponível é de dezembro de 2007... Já o site do Ministério do Meio Ambiente fala que “as ações para a revitalização estão inseridas no Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas com Vulnerabilidade Ambiental do Plano Plurianual (PPA 2004/2007 e PPA 2008/2011) e será complementado por outras ações previstas em vários programas federais do PPA”... E de fato aparecem setorialmente neles. Já à agenda não se tem acesso em site nenhum, nem à execução orçamentária... Inevitável a pergunta: o que se quer esconder?
Fomos conferir de perto aquelas que nos parecem as obras principais do PRSF: as de esgotamento sanitário. Membros da SFVivo percorreram o traçado destas obras em algumas cidades ribeirinhas. Parte do que relataram segue em anexo no DOSSIÊ “CAMINHO DO ESGOTO”.
Até quando a sociedade barranqueira e brasileira vai assistir conformada aos desmandos que um diminuto grupo poderoso política e economicamente faz para si mesmo, na Bacia do São Francisco e no Nordeste, com vultuosos recursos públicos, sob o manto da democracia representativa, em nome do “desenvolvimento” social e da proteção ambiental? Reciclam-se os discursos (sustentabilidade) e os métodos (corrupção), para continuar a mesma sina (dominação e exploração). O planeta dá sinais de que não suporta mais, a humanidade se rebela em ruas e praças. Há esperança, e ela vem do povo unido e organizado. Como neste 510º 4 de outubro, ao dar a quem tanto nos ofereceu o “gole d’água” de sua luta pelo São Francisco Vivo – Terra e Água, Rio e Povo!
Rio São Francisco, 4 de outubro de 2011.
Articulação Popular São Francisco Vivo.
A Articulação Popular São Francisco Vivo - SFVivo, que congrega cerca de 300 entidades sociais da Bacia, entre movimentos, associações, sindicatos, pastorais e ONGs, vem a público e perante as autoridades para denunciar a continuidade dos desmandos contra o rio e seu povo; e convocar todos e todas a se unirem em iniciativas concretas em defesa da vida que ainda resta no São Francisco – Terra e Água, Rio e Povo.
Quatro anos depois de iniciado o projeto de transposição para o Nordeste chamado Setentrional, as principais críticas ao projeto já se revelam verdadeiras. A revitalização da Bacia, tarefa imensa, cobrada há tempos, veio num programa governamental mínimo como “moeda de troca” pela transposição, e se arrasta incompleta, insuficiente, sob suspeitas de corrupção, sujeita ao jogo dos interesses político-eleitorais. Pensa-se encobrir as evidências com eventos festivos e shows de artistas famosos durante esta semana, em algumas cidades ribeirinhas, sob o slogan de “São Francisco Vive”, cópia mal intencionada da divisa de nossa Articulação. Pretender com marketing “resolver” a grave situação do Velho Chico é tripudiar sobre a sorte de milhões de pessoas e um inúmero conjunto de espécies e formas de vida
Transposição: obras confirmam críticas
Nossas críticas e alertas quanto à transposição, feitas por organizações da sociedade civil e cientistas isentos, que sempre contestamos a obra e suas razões, já se comprovaram:
1. A obra seria muito mais cara que o previsto: de 5 bilhões iniciais já estão reajustadas em 6,8 bilhões, um aditivo de 1,8 bilhões, 36% em média. Há lotes ainda não re-licitados, o que vai onerar ainda mais o preço final.
2. Não atenderia a população mais necessitada: efetivamente, não pôs uma gota d’água para nenhum necessitado; antes desmantelou a produção agrícola local por onde passou.
3. O custo da água seria inviável: hoje o governo reconhece que o metro cúbico valerá cerca de R$ 0,13 (poderá ser ainda bem maior), seis vezes maior que às margens do São Francisco, onde muitos irrigantes estão inadimplentes por dívidas com os sistemas de água. Para ser economicamente viável, este preço terá que ser subsidiado, e é certo que o povo pagará a conta;
4. Impactaria comunidades indígenas e quilombolas: comunidades quilombolas impactadas são 50 e povos indígenas nove. As demarcações de seus territórios foram emperradas, seus patrimônios destruídos. No caso dos Truká, em Cabrobó – PE, em cuja área o Exército iniciou o Eixo Norte, o território já identificado é demarcado se aceitarem as obras. No caso dos Tumbalalá, em Curaçá e Abaré – BA, na outra margem, se aceitarem a barragem de Pedra Branca. Ainda não foram demarcados pela FUNAI os territórios Pipipã e Kambiwá, a serem cortados ao meio pelos futuros canais, ao pé da Serra Negra, em Pernambuco, monumento natural e sagrado de vários povos. Muitas destas comunidades ainda resistem. O povoado e o assentamento de reforma agrária em Serra Negra não admitem a execução das obras em seu espaço.
5. Destruiria o meio ambiente: grandes porções da caatinga foram desmatadas. Inventário florestal levantou mais de mil espécies vegetais somente no Eixo Leste.
6. Empregos precários e temporários: como sintetizou o cacique Neguinho Truká, “os empregos foram temporários, os problemas são permanentes”. Em Cabrobó, nada restou da prometida dinamização econômica, só decepção e revolta. Nas cidades onde a obra passou ficou um rastro de comércio desorganizado, casas vazias, gente desempregada, adolescentes grávidas...
7. Arrastadas no tempo, a obra se presta a “transpor” votos e recursos: não debela, antes realimenta a “indústria política da seca”. Nova precisão de data para conclusão: 2014! Vem mais uma eleição aí, em 2012, outra em 2014...
8. Faltam duas das conseqüências graves a serem totalmente comprovadas, que só teremos certeza se a obra chegar ao fim: vai impactar ainda mais o rio São Francisco e não vai levar água para os necessitados do Nordeste Setentrional. Enfim, a água da Transposição é para o agro-hidronegócios e pólos industriais do Pecém (CE) e Suape (PE).
Portanto, mantemos a crítica ao projeto. O governo reconhece oficialmente que cinco lotes estão parados e os nove restantes estão em ritmo lento. Já foram gastos 3,5 bilhões de reais na obra. Alegam que a obra “começou sem ter qualquer projeto executivo”, pelo que se deveriam prever custos... Já é longo o histórico de problemas do projeto, seguidas vezes suspenso ou sob suspeição do Tribunal de Contas da União. A pressa era eleitoral, o retardo é venal!
A título de comparação, pensando em menos custos, mais eficiência e eficácia, com esse dinheiro poderiam ter sido feitas 2.187.500 cisternas, beneficiando uma população total de 11 milhões de pessoas.
Em outra opção, com esses recursos, segundo a Agência Nacional de Águas - ANA, poderiam ter sido custeadas mais de 1/3 das adutoras previstas para o Nordeste não entrar em colapso hídrico até 2025. Portanto, já teria beneficiado seguramente 12.883.333. Com metade dos recursos da transposição, já teria sido beneficiada mais gente que a obra promete atender, ou seja, 12 milhões de pessoas. Entretanto, nenhuma dessas adutoras está em andamento!
Com o programa “Água para Todos”, o governo Dilma intensificou o programa de cisternas para abastecer a população difusa com mais 800 mil unidades. É um tácito reconhecimento de que as propostas da sociedade civil eram as mais corretas para abastecimento doméstico da população. E de que a transposição não é para matar a sede de 12 milhões!
Ainda há tempo de preparar a região para o presente e o futuro em termos de segurança hídrica. Segundo o Atlas Nordeste da ANA seriam necessários pouco menos de R$ 10 bilhões para abastecimento urbano de 39 milhões de pessoas em 1794 cidades dos nos nove estados da região. Obras que a despeito da transposição terão que ser feitas.
O aquecimento global poderá significar para o semiárido quase o dobro de aumento da temperatura em outras regiões. Não é aconselhável expandir os negócios intensivos em água e solos, ainda que sejam agora altamente lucrativos, com subsídios públicos e demandas crescentes do mercado global. É uma escolha política, não uma sina econômica.
Revitalização paliativa
O programa governamental de revitalização em nada foi melhorado. Continua setorial e desconexo, longe das causas estruturais dos processos de degradação sócio-ambiental da Bacia. Reduz-se a obras de saneamento básico e ambiental, melhoria da navegabilidade e recuperação de matas ciliares. Avançou um pouco mais nas primeiras, mas como muitos problemas como se verá, e quase nada nestas últimas. Em se tratando de transposição e revitalização, dois são os pesos e duas as medidas.
Numa falsa abertura à participação da sociedade coletou mais de 300 propostas, a maioria das quais o Ministério da Integração descartou por não apresentarem ou não se transformarem em projetos exeqüíveis, dentro dos marcos legais... Está-se a sugerir que a sociedade é a culpada por não se recuperar seu rio?
A título de Programa de Revitalização do Rio São Francisco – PRSF incluem-se todas as ações possíveis do governo federal, de vários setores, muitas em parcerias com os governos estaduais da Bacia, de modo a inflar as aparências. Nos períodos eleitorais temos assistido como se decidem as destinações de verbas, para os mais variados fins... E não há transparência, não se tem como saber muito menos acompanhar o andamento das ações.
No site do Ministério da Integração os dados estão desatualizados. Falam de aplicados R$ 194,6 milhões entre 2004-2007 e da “previsão” de R$ 1,2 bilhões no PAC – Plano de Aceleração do Crescimento 2007-2010. No caso do “esgotamento sanitário” seriam atendidos todos os 102 municípios da calha do rio. O último relatório do programa disponível é de dezembro de 2007... Já o site do Ministério do Meio Ambiente fala que “as ações para a revitalização estão inseridas no Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas com Vulnerabilidade Ambiental do Plano Plurianual (PPA 2004/2007 e PPA 2008/2011) e será complementado por outras ações previstas em vários programas federais do PPA”... E de fato aparecem setorialmente neles. Já à agenda não se tem acesso em site nenhum, nem à execução orçamentária... Inevitável a pergunta: o que se quer esconder?
Fomos conferir de perto aquelas que nos parecem as obras principais do PRSF: as de esgotamento sanitário. Membros da SFVivo percorreram o traçado destas obras em algumas cidades ribeirinhas. Parte do que relataram segue em anexo no DOSSIÊ “CAMINHO DO ESGOTO”.
Até quando a sociedade barranqueira e brasileira vai assistir conformada aos desmandos que um diminuto grupo poderoso política e economicamente faz para si mesmo, na Bacia do São Francisco e no Nordeste, com vultuosos recursos públicos, sob o manto da democracia representativa, em nome do “desenvolvimento” social e da proteção ambiental? Reciclam-se os discursos (sustentabilidade) e os métodos (corrupção), para continuar a mesma sina (dominação e exploração). O planeta dá sinais de que não suporta mais, a humanidade se rebela em ruas e praças. Há esperança, e ela vem do povo unido e organizado. Como neste 510º 4 de outubro, ao dar a quem tanto nos ofereceu o “gole d’água” de sua luta pelo São Francisco Vivo – Terra e Água, Rio e Povo!
Rio São Francisco, 4 de outubro de 2011.
Articulação Popular São Francisco Vivo.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
OFICINAS DE FORMAÇÃO
A Rede de Educação Cidadã – RECID está realizando oficinas de formação e organização na comunidade Ariado em Palmeira dos Índios, entre os temas discutidos com a comunidade esta o processo de organização da comunidade, moradia, condições de saúde, educação, água, violência domestica e meio ambiente.
Bayer retira do mercado agrotóxicos letais
12 anos depois do prometido, Bayer retira do mercado agrotóxicos letais
29 de setembro de 2011
Da Aspta
A empresa Bayer anunciou que retirará do mercado os agrotóxicos mais perigosos (classe 1). Os produtos formulados classificados nesta categoria deixarão de ser vendidos no final de 2012
Para Philipp Mimkes, da Coordenação Contra os Perigos da Bayer (CBG), “Trata-se de um grande êxito para as organizações ambientais e associações de agricultores que há muitos anos lutam contra a utilização de agrotóxicos letais. Mas não podemos nos esquecer que a Bayer já rompeu sua promessa de retirar do mercado as formulações mais perigosas
antes do ano 2000. Desde então muitas vidas humanas poderiam ter sido salvas! Além disso, é vergonhoso que a empresa tenha decidido retirar do mercado estas bombas químicas somente quando elas já não trazem lucros suficientes”.
A CBG escreveu uma carta aberta à presidência da Bayer, que foi assinada por duzentas organizações de quarenta países. Nas assembleias gerais da empresa, em diversas ocasiões ativistas intervieram exigindo o fim da venda dos agrotóxicos classe 1.
Com uma participação no mercado em torno de 20%, a Bayer Cropscience é a segunda maior fabricante de agrotóxicos do mundo. Em seu informe anual de1995 a empresa havia anunciado o seguinte: “Em um programa de três pontos, para os próximos cinto anos propomo-nos metas claras com respeito ao desenvolvimento e comercialização de produtos fitossanitários. Deste modo, continuaremos reduzindo a dose de produto necessária por aplicação e iremos substituindo os produtos de toxicidade classe 1 por formulações menos tóxicas”. Não obstante, depois de 2000 produtos classe 1 como o tiodicarbe, dissulfoton, triazofós, fenamifós e o metamidofós continuaram presentes nos catálogos da Bayer.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, entre 3 e 25 milhões de pessoas sejam intoxicadas por agrotóxicos. Estas intoxicações custam a vida de pelo menos 40 mil pessoas por ano -- e a cifra real é certamente bem mais elevada. Ao redor de 99% das intoxicações acontecem nos países do Sul. Os produtos classe 1, os mais perigosos, são os responsáveis por boa parte dos danos à saúde que se dão nesses países.
A CBG exige ainda que se retire da venda em todo o mundo o herbicida glufosinato (“Liberty”). Esta substância está classificada como perigosa na gestação, já uqe provoca malformações no feto. O produto está incluído no conjunto de 22 agrotóxicos que, segundo a nova legislação da UE sobre o tema, deverão desaparecer do mercado. Há poucas semanas a empresa deixou de vender o Liberty na Alemanha. Entretanto, há dois anos a Bayer inaugurou em Huerth (Colônia - Alemanha) uma nova fábrica do produto para aumentar a exportação para países fora da UE. Para a CBG, um “caso claro de duplo padrão de qualidade”.
N.E.: No Brasil a CTNBio já autorizou 9 variedades transgênicas tolerantes à aplicação do herbicida Liberty (glufosinato de amônio) - o que, assim como no caso da soja tolerante ao glifosato, levará a estrondosos aumentos no uso do veneno.
29 de setembro de 2011
Da Aspta
A empresa Bayer anunciou que retirará do mercado os agrotóxicos mais perigosos (classe 1). Os produtos formulados classificados nesta categoria deixarão de ser vendidos no final de 2012
Para Philipp Mimkes, da Coordenação Contra os Perigos da Bayer (CBG), “Trata-se de um grande êxito para as organizações ambientais e associações de agricultores que há muitos anos lutam contra a utilização de agrotóxicos letais. Mas não podemos nos esquecer que a Bayer já rompeu sua promessa de retirar do mercado as formulações mais perigosas
antes do ano 2000. Desde então muitas vidas humanas poderiam ter sido salvas! Além disso, é vergonhoso que a empresa tenha decidido retirar do mercado estas bombas químicas somente quando elas já não trazem lucros suficientes”.
A CBG escreveu uma carta aberta à presidência da Bayer, que foi assinada por duzentas organizações de quarenta países. Nas assembleias gerais da empresa, em diversas ocasiões ativistas intervieram exigindo o fim da venda dos agrotóxicos classe 1.
Com uma participação no mercado em torno de 20%, a Bayer Cropscience é a segunda maior fabricante de agrotóxicos do mundo. Em seu informe anual de1995 a empresa havia anunciado o seguinte: “Em um programa de três pontos, para os próximos cinto anos propomo-nos metas claras com respeito ao desenvolvimento e comercialização de produtos fitossanitários. Deste modo, continuaremos reduzindo a dose de produto necessária por aplicação e iremos substituindo os produtos de toxicidade classe 1 por formulações menos tóxicas”. Não obstante, depois de 2000 produtos classe 1 como o tiodicarbe, dissulfoton, triazofós, fenamifós e o metamidofós continuaram presentes nos catálogos da Bayer.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, entre 3 e 25 milhões de pessoas sejam intoxicadas por agrotóxicos. Estas intoxicações custam a vida de pelo menos 40 mil pessoas por ano -- e a cifra real é certamente bem mais elevada. Ao redor de 99% das intoxicações acontecem nos países do Sul. Os produtos classe 1, os mais perigosos, são os responsáveis por boa parte dos danos à saúde que se dão nesses países.
A CBG exige ainda que se retire da venda em todo o mundo o herbicida glufosinato (“Liberty”). Esta substância está classificada como perigosa na gestação, já uqe provoca malformações no feto. O produto está incluído no conjunto de 22 agrotóxicos que, segundo a nova legislação da UE sobre o tema, deverão desaparecer do mercado. Há poucas semanas a empresa deixou de vender o Liberty na Alemanha. Entretanto, há dois anos a Bayer inaugurou em Huerth (Colônia - Alemanha) uma nova fábrica do produto para aumentar a exportação para países fora da UE. Para a CBG, um “caso claro de duplo padrão de qualidade”.
N.E.: No Brasil a CTNBio já autorizou 9 variedades transgênicas tolerantes à aplicação do herbicida Liberty (glufosinato de amônio) - o que, assim como no caso da soja tolerante ao glifosato, levará a estrondosos aumentos no uso do veneno.
Campanha contra o uso de agrotóxicos
Número: 43
Abr/Mai
2011
Você sabia que todos os dias quando almoçamos e jantamos ingerimos uma quantidade enorme de venenos? Nossos alimentos estão contaminados porque as lavouras em todo o Brasil são pulverizadas com grande quantidade de agrotóxicos.
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2009. Mais de um bilhão de litros de venenos foram jogados nas lavouras, de acordo com dados oficiais.
Os agrotóxicos contaminam a produção dos alimentos que comemos e a água (dos rios, lagos, chuvas e os lençóis freáticos) que bebemos!
Mas os venenos não estão só no nosso prato. Todo o ambiente, os animais e nós, seres humanos, estamos ameaçados!
Os agrotóxicos causam uma série de doenças muito sérias, que atacam os trabalhadores rurais, comunidades rurais e toda a população, que consome alimentos com substâncias tóxicas e adquire muitas doenças.
A culpa é do agronegócio!
Esse é o nome dado ao modelo de produção agrícola que domina o Brasil e o mundo. Esse jeito de produzir se sustenta nas grandes propriedades de terra (o latifúndio), uma grande quantidade de máquinas (que levam à expulsão das famílias do campo e à superpopulação das cidades), no pagamento de baixos salários (inclusive, trabalho escravo), muito lucro para as grandes empresas estrangeiras e na utilização de uma enorme quantidade de agrotóxicos.
A expansão desse modelo de produção agrícola é responsável pelo desmatamento,
envenena os alimentos e contamina a população.
Ao contrário do que dizem as grandes empresas, é possível uma produção em que todos comam alimentos saudáveis e diversificados. A saída é fortalecer a agricultura familiar e camponesa.
No lugar dos latifúndios, pequenas propriedades e Reforma Agrária. Desmatamento zero, acabando com devastação do ambiente. Em vez da expulsão campo, geração de trabalho e renda para a população do meio rural.
Novas tecnologias que contribuam com os trabalhadores e acabem com a utilização de agrotóxicos Proibição do uso dos venenos. Daí será possível um jeito diferente de produzir: a agroecologia.
Participe dessa campanha para acabar com os agrotóxicos!
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida
Assinar:
Postagens (Atom)