sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Reprocessamento da identidade nordestina

Cultura

“No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador”

03/10/2011



Thalles Gomes,
de Maceió (AL)



Doutor em comunicação e cultura pela UFRJ e professor da UFPE, Felipe Trotta vem desenvolvendo nos últimos anos pesquisas sobre o universo do forró contemporâneo no Nordeste brasileiro. Em entrevista ao Brasil de Fato, Trotta destrincha os elementos principais para compreender a ascensão e sucesso do forró eletrônico na cultura nordestina.



Brasil de Fato – Qual a definição para o forró eletrônico? Como ele surgiu e o que o caracteriza como gênero musical?

Felipe Trotta – O forró eletrônico opera como uma espécie de variante do forró tradicional. Intencionalmente, as bandas fundadoras (Mastruz com Leite, Magníficos, Limão com Mel etc.) buscavam negar o referencial saudosista e rural do forró tradicional. Assim, incorporaram instrumentos e estilos de performance e interpretação que se aproximavam do pop internacional.



Como se constrói uma banda de forró eletrônico? Qual o papel exercido pelos empresários?

Os empresários foram os protagonistas da criação das bandas, e isso é alvo de muitas críticas. A rigor, a parte artística é decidida quase integralmente por eles, salvo raras exceções. Quase sempre os empresários são músicos de estúdio e fazem uma função que nas grandes gravadoras era do produtor artístico: adequar estética e mercado na esfera da criação. No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador, como os músicos das bandas de artistas consagrados. A diferença é que os cantores também são contratados.



Quais os temas mais recorrentes no universo do forró eletrônico?

Festa, amor e sexo. A temática é semelhante à do forró tradicional, com exceção dos aspectos ligados à ruralidade, à saudade. O eletrônico canta o urbano, o jovem e está constantemente em busca de festa, diversão, alegria e sexo, com amor ou sem amor (dependendo da música). O ambiente é altamente erotizado, mas a ideia de festa se sobrepõe, numa atmosfera de informalidade (como o forró tradicional).



Quais são os padrões de comportamento e visão de mundo presentes no universo do forró eletrônico?

O principal é o aspecto jovem da vertente eletrônica. Enquanto o forró tradicional é uma festa regulada moralmente pela esfera da família (o dono da festa, o patriarca, o pai controlam o andamento da festa), o eletrônico é uma festa que ocorre fora da opressão da moral familiar, pelo menos no terreno do imaginário. Assim, pode ser mais licencioso e operar nas frestas e nos limites do vocabulário, danças e modos de relação social.



Quem é o público que consome o forró eletrônico?

Prioritariamente jovens urbanos nordestinos. A identidade nordestina é um elemento muito importante do forró, e o eletrônico funciona como um reprocessamento dessa identidade rural tradicional, refletindo um Nordeste cosmopolita, urbano e antenado com as tendências estéticas do mundo pop transnacional.

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