terça-feira, 28 de agosto de 2012

Grito dos Excluídos 2012 Palmeira dos Índios – AL


Grito dos Excluídos 2012
Palmeira dos Índios – AL

Plenária do Grito: 05 a 07 de setembro de 2012

Objetivo: Refletir a conjuntura alagoana e construir estratégias para Grito dos Excluídos 2012, rumo ao Projeto Popular de Sociedade.

Organizações: MPA, Cáritas, Comunidades Quilombolas, MTC, Indígenas Xukuru Kariri, Lar da Criança, Núcleo de Cultura Camponesa de Renascença, MPDC, Ôtto Coletivo, PJ, MST, CPT, Ariado, CIMI, Lar da Criança, RECID, Movimento Comunitário Popular, Juventude Consciente, Povos de Terreiro.
Pré – Gritos: Já estão acontecendo, este são o momento das comunidades de discutirem as problemáticas que envolvem a vida do povo, as causas da exclusão social.
Local: Salão Paroquial Dom Bosco
            Palmeira dos Índios
Programação:
Dia
05/09/2012
 Coordenação do dia: MPDC e NCCR
Manhã

Tarde
Noite
8:00 - Chegada e acolhida
9:00 - Mística e abertura
9:30 - Analise de Conjuntura – Moisés Oliveira  ( Ôtto Coletivo)


14 : 00 - Retrospectiva da caminhada do Grito e Troca de experiência entre as organizações – Hélio (RECID)

Noite Cultural
Dia 06/09/2012
Coordenação do dia: Xukuru Kariri e Cáritas
8:00 - Mística e animação
8:30 - Educação Popular e trabalho de base – a confirmar
14:00 - Educação popular e trabalho de base;
16:00 - Preparação ao dia 07 
19:00 – Comunicações – Oficinas de: fotografia, estêncil, alimentação, coordenação, animação, celebração e mística. 


Dia 07: Concentração no Bairro Cafurna na Praça do Xafaris, percurso pelas principais ruas da cidade e termino na Praça São Pedro com celebração ecumênica. As organizações trazerem faixas, cartazes, bandeiras, simbologia das lutas, apresentações culturais e teatrais. Mostrar neste dia toda a nossa indignação e denuncia das muitas formas de exclusão, mais também toda a beleza e conquistas das nossas comunidades e organizações.  

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Encontro Unitario lança declaração histórica em defesa da Reforma Agrária

Da pagina do MST http://www.mst.org.br
22 de agosto de 2012
Leia a declaraçao final do Encontro Nacional Unitario dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Aguas e das Florestas.
Por Terra, Território e Dignidade!
Após séculos de opressão e resistência, “as massas camponesas oprimidas e exploradas”, numa demonstração de capacidade de articulação, unidade política e construção de uma proposta nacional, se reuniram no “I Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas sobre o caráter da reforma agrária”, no ano de 1961, em Belo Horizonte. Já nesse I Congresso os povos do campo, assumindo um papel de sujeitos políticos, apontavam a centralidade da terra como espaço de vida, de produção e identidade sociocultural.
Essa unidade e força política levaram o governo de João Goulart a incorporar a reforma agrária como parte de suas reformas de base, contrariando os interesses das elites e transformando-se num dos elementos que levou ao golpe de 1964. Os governos golpistas perseguiram, torturaram, aprisionaram e assassinaram lideranças, mas não destruíram o sonho, nem as lutas camponesas por um pedaço de chão.
Após décadas de resistência e denuncias da opressão, as mobilizações e lutas sociais criaram condições para a retomada e ampliação da organização camponesa, fazendo emergir uma diversidade de sujeitos e pautas. Junto com a luta pela reforma agrária, a luta pela terra e por território vem afirmando sujeitos como sem terra, quilombolas, indígenas, extrativistas, pescadores artesanais, quebradeiras, comunidades tradicionais, agricultores familiares, camponeses, trabalhadores e trabalhadoras rurais e demais povos do campo, das águas e das florestas. Neste processo de constituição de sujeitos políticos, afirmam-se as mulheres e a juventude na luta contra a cultura patriarcal, pela visibilidade e igualdade de direitos e dignidade no campo.
Em nova demonstração de capacidade de articulação e unidade política, nós homens e mulheres de todas as idades, nos reunimos 51 anos depois, em Brasília, no Encontro Nacional Unitário de Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos do Campo, das Águas e das Florestas, tendo como centralidade a luta de classes em torno da terra, atualmente expressa na luta por Reforma Agrária, Terra, Território e Dignidade.
Nós estamos construindo  a unidade em resposta aos desafios da desigualdade na distribuição da terra. Como nos anos 60, esta desigualdade se mantém inalterada, havendo um aprofundamento dos riscos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em conseqüência da especialização primária da economia.
A primeira década do Século XXI revela um projeto de remontagem da modernização conservadora da agricultura, iniciada pelos militares, interrompida nos anos noventa e retomada como projeto de expansão primária para o setor externo nos últimos doze anos, sob a denominação de agronegócio, que se configura como nosso inimigo comum.
Este projeto, na sua essência, produz desigualdades nas relações fundiárias e sociais no meio rural, aprofunda a dependência externa e realiza uma exploração ultrapredatória da natureza. Seus protagonistas são o capital financeiro, as grandes cadeias de produção e comercialização de commodities de escala mundial, o latifúndio e o Estado brasileiro nas suas funções financiadora – inclusive destinando recursos públicos para grandes projetos e obras de infraestrutura – e (des)reguladora da terra.
O projeto capitalista em curso no Brasil persegue a acumulação de capital especializado no setor primário, promovendo super-exploração agropecuária, hidroelétrica, mineral e petroleira. Esta super-exploração, em nome da necessidade de equilibrar as transações externas, serve aos interesses e domínio do capital estrangeiro no campo através das transnacionais do agro e hidronegócio.
Este projeto provoca o esmagamento e a desterritorialização dos trabalhadores e trabalhadoras dos povos do campo, das águas e das florestas. Suas conseqüências sociais e ambientais são a não realização da reforma agrária, a não demarcação e reconhecimento de territórios indígenas e quilombolas, o aumento da violência, a violação dos territórios dos pescadores e povos da floresta, a fragilização da agricultura familiar e camponesa, a sujeição dos trabalhadores e consumidores a alimentos contaminados e ao convívio com a degradação ambiental. Há ainda conseqüências socioculturais como a masculinização e o envelhecimento do campo pela ausência de oportunidades para a juventude e as mulheres, resultando na não reprodução social do campesinato.
Estas conseqüências foram agravadas pela ausência, falta de adequação ou caráter assistencialista e emergencial das políticas públicas. Estas políticas contribuíram para o processo de desigualdade social entre o campo e a cidade, o esvaziamento do meio rural e o aumento da vulnerabilidade dos sujeitos do campo, das águas e das florestas. Em vez de promover a igualdade e a dignidade, as políticas e ações do Estado, muitas vezes, retiram direitos e promovem a violência no campo.
Mesmo gerando conflitos e sendo inimigo dos povos, o Estado brasileiro nas suas esferas do Executivo, Judiciário e Legislativo, historicamente vem investindo no fortalecimento do modelo de desenvolvimento concentrador, excludente e degradador. Apesar de todos os problemas gerados, os sucessivos governos – inclusive o atual – mantêm a opção pelo agro e hidronegócio.
O Brasil, como um país rico em terra, água, bens naturais e biodiversidade, atrai o capital especulativo e agroexportador, acirrando os impactos negativos sobre os territórios e populações indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e camponesas. Externamente, o Brasil vem se tornando alavanca do projeto neocolonizador, expandindo este modelo para outros países, especialmente na América Latina e África.
Torna-se indispensável um projeto de vida e trabalho para a produção de alimentos saudáveis em escala suficiente para atender as necessidades da sociedade, que respeite a natureza e gere dignidade no campo. Ao mesmo tempo, o resgate e fortalecimento dos campesinatos, a defesa e recuperação das suas culturas e saberes se faz necessário para projetos alternativos de desenvolvimento e sociedade.
Diante disto, afirmamos:
1)       a reforma agrária como política essencial de desenvolvimento justo, popular, solidário e sustentável, pressupondo mudança na estrutura fundiária, democratização do acesso à terra, respeito aos territórios e garantia da reprodução social dos povos do campo, das águas e das florestas.
2)      a soberania territorial, que compreende o poder e a autonomia dos povos em proteger e defender livremente os bens comuns e o espaço social e de luta que ocupam e estabelecem suas relações e modos de vida, desenvolvendo diferentes culturas e  formas de produção e reprodução,  que marcam e dão identidade ao território.
3)      a soberania alimentar como o direito dos povos a definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação adequada a toda a população, respeitando suas culturas e a diversidade dos jeitos de produzir, comercializar e gerir estes processos.
4)      a agroecologia como base para a sustentabilidade e organização social e produtiva da agricultura familiar e camponesa, em oposição ao modelo do agronegócio. A agroecologia é um modo de produzir e se relacionar na agricultura, que preserva a biodiversidade, os ecossistemas e o patrimônio genético, que produz alimentos saudáveis, livre de transgênicos e agrotóxicos, que valoriza saberes e culturas dos povos do campo, das águas e das florestas e defende a vida.
5)      a centralidade da agricultura familiar e camponesa e de formas tradicionais de produção e o seu fortalecimento por meio de políticas públicas estruturantes, como fomento e crédito subsidiado e adequado as realidades; assistência técnica baseada nos princípios agroecológicos; pesquisa que reconheça e incorpore os saberes tradicionais; formação, especialmente da juventude; incentivo à  cooperação, agroindustrialização e comercialização.
6)      a necessidade de relações igualitárias, de reconhecimento e respeito mútuo, especialmente em relação às mulheres, superando a divisão sexual do trabalho e o poder patriarcal e combatendo todos os tipos de violência.
7)      a soberania energética como um direito dos povos, o que demanda o controle social sobre as fontes, produção e distribuição de energia, alterando o atual modelo energético brasileiro.
8)      a educação do campo, indígena e quilombola como ferramentas estratégicas para a emancipação dos sujeitos, que surgem das experiências de luta pelo direito à educação e por um projeto político-pedagógico vinculado aos interesses da classe trabalhadora.  Elas se contrapõem à educação rural, que tem como objetivo auxiliar um projeto de agricultura e sociedade subordinada aos interesses do capital, que submete a educação escolar à preparação de mão-de-obra minimamente qualificada e barata e que escraviza trabalhadores e trabalhadoras no sistema de produção de monocultura.
9)      a necessidade de democratização dos meios de comunicação, hoje concentrados em poucas famílias e a serviço do projeto capitalista concentrador,  que criminalizam os movimentos e organizações sociais do campo, das águas e das florestas.
10)   a necessidade do reconhecimento pelo Estado dos direitos das populações atingidas por grandes projetos, assegurando a consulta livre, prévia e informada e a reparação nos casos de violação de direitos.
Nos comprometemos:

1 a fortalecer as organizações sociais e  a intensificar o processo de unidade entre os trabalhadores e trabalhadoras, povos do campo, das águas e das florestas, colocando como centro a luta de classes e o enfrentamento ao  inimigo comum, o capital e sua expressão atual no campo, o agro e hidronegócio.
2    a ampliar a unidade nos próximos períodos, construindo pautas comuns e processos unitários de luta pela realização da reforma agrária, pela reconhecimento, titulação, demarcação e desintrusão das terras indígena, dos territórios quilombolas e de comunidades tradicionais, garantindo direitos territoriais, dignidade e autonomia.
3    a fortalecer a luta pela reforma agrária  como bandeira unitária dos trabalhadores e trabalhadoras e povos do campo, das águas e das florestas.
4    a construir e fortalecer alianças entre sujeitos do campo e da cidade, em nível nacional e internacional, em estratégias de classe contra o capital e em defesa de uma sociedade justa, igualitária, solidária e sustentável.
5    a lutar pela transição agroecológica massiva, contra os agrotóxicos, pela produção de alimentos saudáveis, pela soberania alimentar, em defesa da biodiversidade e das sementes.
6    a construir uma agenda comum para rediscutir os critérios de construção, acesso, abrangência, caráter e controle social sobre as políticas públicas, a exemplo do PRONAF, PNAE, PAA, PRONERA, PRONACAMPO, pesquisa e extensão, dentre outras, voltadas para os povos do campo, das águas e das florestas.
7    a fortalecer a luta das mulheres por direitos, pela igualdade e pelo fim da violência.
8    a ampliar o reconhecimento da importância estratégica da juventude na dinâmica do desenvolvimento e na reprodução social dos povos do campo, das águas e das florestas.
9    a lutar por mudanças no atual modelo de produção pautado nos petro-dependentes, de alto consumo energético.
10    a combater e denunciar a violência e a impunidade no campo e a criminalização das lideranças e movimentos sociais, promovidas pelos agentes públicos e privados.
11    a lutar pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a morte e desaparecimento forçado de camponeses, bem como os direitos de reparação aos seus familiares, com a criação de uma comissão camponesa pela anistia, memória, verdade e justiça para incidir nos trabalhos da Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos, visando a inclusão de todos afetados pela repressão.
Nós, trabalhadores e trabalhadoras, povos do campo, das águas e das florestas exigimos o redirecionamento das políticas e ações do Estado brasileiro, pois o campo não suporta mais.  Seguiremos em marcha, mobilizados em unidade e luta e, no combate ao nosso inimigo comum, construiremos um País e uma sociedade justa, solidária e sustentável.
Brasília, 22 de agosto de 2012.

Associação das Casas Familiares Rurais (ARCAFAR)
Associação das Mulheres do Brasil (AMB)
Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA)
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF)
Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
CARITAS Brasileira
Coordenação Nacional dos Quilombolas (CONAQ)
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG)
Comissão Pastoral da Pesca (CPP)
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB)
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB)
Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (FETRAF)
FASE
Greenpeace
INESC
Marcha Mundial das Mulheres (MMM)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento Camponês Popular (MCP)
Movimento das Mulheres Camponesas (MMC)
Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE)
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Movimento Interestadual das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB)
Oxfam Brasil
Pastoral da Juventude Rural (PJR)
Plataforma Dhesca
Rede Cefas
Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF)
SINPRO DF
Terra de Direitos
Unicafes
VIA CAMPESINA BRASIL

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

POVO XUKURU KARIRI CELEBRA MAIS UMA CONQUISTA


Na manhã de 08 de agosto de 2012, o povo Xucukuru Kariri de Palmeira dos Índios - Alagoas, conseguiu mais uma vitória na luta pelo seu território tradicional. A retomada de parte do território tem se tornado motivo de disputa judicial, embora se tratando de uma área já com portaria, declaratória expedida pelo ministro da justiça. Na 8ª Vara Federal de Alagoas, em audiência de conciliação foi acordado que os indígenas permanecessem na área retomada, e a FUNAI realizasse num prazo de 30 dias o levantamento fundiário das benfeitorias na terra. Porém uma nova liminar agora da 5ª Região do Tribunal Regional Federal em Recife data de 26/07/2012, obrigando os Xukuru Kariri em um prazo de cinco dias desocuparem a área, fazendo-se uso até mesmo de força policial para se fazer cumprir o que pede a liminar. 


O povo mobilizado contando com apoio das organizações sociais, estavam reunidos aguardando a chegada do oficial de justiça, acompanhado pelo Centro de Gerenciamento de Crise, para dar ciência da intimação, prevista para esta quarta- feira dia 08. Neste mesmo dia os Xukuru Kariri foram informados da suspensão da reintegração de posse.


Após conhecimento do fato, a comunidade está em festa. Juntaram-se no chão Retomada todos os parentes para celebrar este momento, dançando toré, em volta do fogo aquecedor que ilumina a esperança no coração dos guerreiros Xukuru Kariri.


Na área em que eles estão, além da vitória de permanecer na terra, está garantindo que as roças, as criações, as casas, a escola, continuarão de pé, no cotidiano de homens, mulheres e crianças que já fizeram do chão da Retomada uma comunidade que resiste na tradição cultural característica do povo Xukuru Kariri, que precisam está sempre em alerta diante da opressão de mais de 500 anos. Luta, resistência e saberes se misturam neste momento de alegria. É a terra voltando para quem realmente ela pertence.


A vitória do Povo Xukuru Kariri também foi das organizações que apóiam a Retomada e participam da luta. O papel daqueles que também tem seus direitos ceifados é está junto. Esta é a missão que unifica a luta dos povos e semeia a semente de um novo tempo.


Agora é o momento de dar continuidade ao processo de conquista definitiva de todo território, pois este representa apenas um passo da caminhada, é preciso continuar lutando, se organizando, crendo nos sonhos, e atentos a realidade para concretizá-los.


A mãe Terra hoje se apresenta mais bonita por que um dos fios que tecem o tecido da vida canta a vitória do dia que chegou.



Conselho Indigenista Missionário, Movimentos das Comunidades Populares, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo, Rede de Educação Cidadã, Movimento Pro-Desenvolvimento Comunitário, Ôtto Coletivo de Arte Cultura e Comunicação.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

CARTA PEDAGÓGICA DE ALAGOAS

“...colhida na cuia das mãos para lavar a alma e manter desperto o coração[1].”
A Rede de Educação Cidadã Alagoas está inserida nas microrregiões do Agreste, Zona da Mata, Metropolitana e Alto Sertão, nosso estado está inserido no semiárido brasileiro, sua geografia é formada por vários municípios de grande e pequeno porte com uma das maiores populações camponesas, de povos tradicionais indígenas, pescadores e quilombolas do Brasil. De muitas belezas naturais, culturas, tradições e saberes populares variados, Alagoas é historia do Litoral ao Sertão, também de muitos contrastes sociais que se perpetuam na vida do povo, e impedem que a dignidade humana aconteça em sua totalidade.  
Os camponeses não têm uma verdadeira reforma agrária de acesso a terra, falta uma política agrícola que subsidie a produção de alimentos e façam investimentos em suas pequenas propriedades. Há também um processo de enfraquecimento da luta e desarticulação dos movimentos por Reforma Agrária. Os Povos Indígenas continuam na luta pela demarcação e garantia dos seus territórios tradicionais de uso continuo, em especial destacamos a luta histórica do Povo Xukuru Kariri, que teve seu território de 36 mil hectares, reduzido para 7.33 hectares e mesmo assim não tem uma demarcação efetivada para as 7 aldeias de Palmeira dos Índios. As comunidades quilombolas ainda não têm uma titulação e demarcação efetivada de seus territórios, pois há uma desarticulação por parte do Estado, o que fragiliza a luta das comunidades. Entendemos que só reconhecer as comunidades não garante a posse definitiva de seus territórios. 
Nos centros urbanos de nosso estado tem crescido o número de população de rua, miséria e fome, violência, extermínio e criminalização da juventude por meio do tráfico e das drogas. Este cenário de violência gera um senso comum na sociedade, que matar é normal, banalizando a vida. Revela-se assim uma camuflagem em nome de um bem estar social que não existe, continua a propaganda que a cidade é moderna e o campo é atrasado.
 A Política partidária segue os moldes de uma falsa democracia que combina corrupção, compra de voto, enriquecimento de pequenos grupos de famílias.  O povo continua a mercê deste sistema representativo que não garante bem está social as massas trabalhadoras.
Aceleração do Crescimento), sendo que uma das principais é o Canal do Sertão, que vem sendo construído pelo governo do estado e governo federal com a pretensão de acabar com a sede da população  da caatinga, cidades do agreste e sertão, porém é muito visível que esta obra faraônica tem destino definido,  que sãos os grandes latifúndios de pecuária e monocultivos extensivos de exportação. Ainda falando de grandes projetos destacamos a instalação da Mineração Vale Verde que fará extração de cobre, ferro e ouro. Foram identificados 150 milhões de toneladas de minérios no município de Craíbas e 15 milhões de toneladas no município de Igací, com licença ambiental para explorar durante 27 anos a região, com aval e financiamento inclusive do governo. O Estaleiro,
considerado um dos maiores da América Latina, está pra ser construindo na área dos manguesais, impactando centenas de famílias que vivem da pesca artesanal. A obra de duplicação BR 101, atinge os territórios tradicionais indígenas e camponeses. A região do Baixo São Francisco sofre com às águas decantadas  pelos sucessivos barramentos construídos pelas hidrelétricas, esgotos, agrotóxicos e metais pesados, poluem o Velho Chico, para a população ribeirinha chegam às doenças, a falta do pescado, a fome, a miséria e a violência. Estão nas margens do São Francisco os piores índices de desenvolvimento humano da região. A cana produtora historicamente do abuso e exploração e aumento da concentração da terra e da riqueza, continua com seu projeto degenerativo regado ao sangue e suor do trabalhador rural.
surgem horizontes de esperança, a Rede de Educação Cidadã tem fortalecido processos em Rede com ações que já vislumbram resultados e são de significados importantes para a luta e unidade da classe trabalhadora: na comunicação popular, junto a Ôtto - Coletivo de Arte Cultura e comunicação no sentido de registrar as ações e lutas dos movimentos, pastorais sociais e povos indígenas. O Grito dos Excluídos tem desencadeado um processo de articulação, de formação e luta das comunidades, ONG’s, Movimentos Sociais, Povos Tradicionais e de terreiro, Pastorais Sociais, organizações juvenis de crianças e adolescentes e de Economia Popular Solidária. Escola Fé e Política Maninha Xukuru Kariri de formação política a Luz do evangelho para a transformação social. Grupos de estudos em educação popular freiriana, a juventude celebra 30 anos de muita luta da Pastoral da Juventude do Meio Popular em Alagoas, construindo sua fé com muitos instrumentos metodológicos muita mística, teatro do oprimido, danças circulares e participação política. Em terras palmarinas o grupo Cultural Vixe Maria, luta e faz transformação social e preservação da cultura popular com Teatro de Rua, o objetivo dessas ações é fomentar a discussão, abordando os aspectos da cultura popular, evidenciando as raízes de nossa formação cultural, política e social. Caminhando com passos firmes vamos conseguindo nos fortalecer no compromisso com a militância. Nossas rodas de conversas tem ficado cada dia mais bonita na Tenda Paulo Freire, pois cuidamos uns dos outros nos valendo das práticas integrativas de saúde, o Movimento de Educação Popular e Saúde – MOPS, contribui na discussão da Saúde enquanto direito de cidadania e contra o avanço da privatização do SUS em Alagoas e a privatização do Hospital Universitário. A luta dos trabalhadores sem terra não para, enquanto houver pessoas com necessidade de terra para trabalhar e houver opressão por parte da burguesia, afirmam os trabalhadores do Sertão.
Animados e buscando o alimento necessário para a militância, realizamos o Curso Estadual de Formação em Educação Popular. Como parte do Plano Estadual de Formação.  Com o objetivo de dar seguimento aos processos de construção dos grupos de estudos freirianos estadual e microrregionais. A turma foi composta por militantes, educadores e educadoras das diversas organizações, pastorais e movimentos sociais articulados pela RECID, no estado. A partir das seguintes temáticas: Concepção teórico-metodológica da educação popular freiriana; Cultura popular como prática de resistência x cultura de massas; Projeto de sociedade e modelo de desenvolvimento. Participamos da Plenária Nacional da Assembleia Popular e de lá saímos com o compromisso de articularmos o Curso de Realidade Brasileira, sinalizando mais um espaço de formação e reafirmação da nossa luta na construção do Projeto Popular para Alagoas.
 Assim podemos afirmar que em uma conjuntura onde o descenso da luta do povo é visível e a hegemonia do sistema capitalista neoliberal impera, em nossos corações está presente um espírito, e uma utopia renovada por meio de uma mística da construção coletiva do novo. Cabe-nos enquanto coletivo em rede aprofundar melhor o papel do Estado no cumprimento e efetivação das políticas públicas. Fortalecer os processos de luta campo e cidade todos os dias. Fortalecer os espaços da organização popular por meio de um amplo trabalho de base, um continuo processo de formação para novos militantes e quadros com compreensão das necessidades da classe trabalhadora.  Repensando a convivência com o semiárido e questão ambiental. 
Por fim estamos convencidos que este sistema capitalista neoliberal em evidência não serve para a classe trabalhadora. E afirmamos a necessidade de um Projeto de sociedade e popular que vem sendo alicerçadas com as mãos, mentes, corações, educação, culturas, saberes, fé, e política que é o socialismo.

... e foi como se um vento torturando

Até a solidão ou a loucura

Me devolvesse a alma da tempestade!



Você sabia de mim mil anos antes

E trazia no corpo a semente

De novas bandeiras.


Pedro Tierra


Alagoas, agosto de 2012.