sexta-feira, 23 de março de 2012

AÇÃO EM DEFESA DO SUS E PROMOÇÃO A SAÚDE SAÚDE ENQUANTO DIREITO E OS RISCOS DA PRIVATIZAÇÃO DO SUS EM ALAGOAS.

REALIZAÇÃO 

LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO POPULAR/NUSP/UFAL 

MOVIMENTO POPULAR EM SAÚDE REDE DE EDUCAÇÃO CIDADà


CONVITE

AÇÃO EM DEFESA DO SUS E PROMOÇÃO A SAÚDE
SAÚDE ENQUANTO DIREITO E OS RISCOS DA PRIVATIZAÇÃO DO SUS EM ALAGOAS.
DIA  31 de MARÇO das 8:30 às 16h LOCAL: Praça Rui Palmeira, no mirante da Chã do Bebedouro


PROGRAMAÇÃO:

8:30hs – Acolhimento com vivencia em Lian Gong
9:00hs – Apresentação cultural: Banda Afro – ACACB.
9:30 – Roda de conversa - A Saúde enquanto direito de cidadania e o avanço da privatização do SUS em Alagoas e do Hospital Universitário – O que a população perde com isso? O que podemos fazer?
11:00hs – Mural da indignação
11:30 – Ciranda de roda
12:00hs – Parada para o almoço
13:30hs – Apresentação da ACACB
14h – Roda de conversa sobre as práticas integrativas em saúde – Reiki, Massagem, uso das plantas medicinais
14:40hs – Práticas de cuidados:

- Aplicação de Reiki (Thiago, Bacelar, Antônio, Moises, Salete)
- Aplicação de massagem: (Eneida, Ilma e Koran)
- Oficina de pintura e musicalização com as crianças( Laura, Érica e Daiane)
- Banca para medir pressão (Responsável: Isadora e mais um aluno da Medicina)
- Teste de Hanseníase
- Banca para distribuir material educativo e preservativos


Encerramento com o grupo de Baianas da Associação das Donas de Casa da Chã de Bebedouro.


Contatos: 
Edna: 99915345 e 88110193; 
Inês: 8874 3433 e 9925 8797;
Bacelar: 8862-8999 / 9604-8720

É hora de pôr os pés na estrada.

ATT. GECINALDO XUKURU-KARIRI


PEC 215 é aprovada, mas movimento indígena segue mobilizado contra proposta
Por 38 votos a dois, proposta ruralista é aprovada depois de ser adiada três vezes, desde o ano passado. Indígenas entram em confronto com policiais e prometem mais mobilizações 

Renato Santana

Cimi, de Brasília

A primeira batalha de uma guerra ainda longe do fim acabou vencida pelas bancadas ruralista e evangélica da Câmera Federal. Por 38 votos a dois, foi aprovada na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania (CCJ) nesta quarta-feira, 21, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000. A proposta segue agora para Comissão Especial e o movimento indígena segue mobilizado.
O objetivo da PEC 215 é levar para o Congresso Nacional a demarcação e homologação de terras indígenas, quilombolas e de áreas de conservação ambiental, que conforme a Constituição Federal são atribuições do Poder Executivo. Em dia de levante da bancada ruralista no Congresso Nacional, que força a aprovação do novo Código Florestal, o Planalto pouco fez, apesar de contrariado, para sustentar os deputados que combateram a aprovação da PEC.
Durante a sessão da CCJ, o movimento indígena esteve presente e protestou com cânticos, rituais e gritos de guerra. A polícia legislativa entrou em ação e com truculência tentou de todas as formas calar os indígenas, impedindo-os de mostrar a indignação contra a PEC. “Essa proposta afeta a vida dessas pessoas, portanto os indígenas têm todo o direito de protestar”, destacou o deputado Paulo Teixeira (PT/SP).
Estavam presentes na sessão indígenas – cerca de 30 - dos povos Xakriabá, de Minas Gerais, Guarani Kaiowá e Terena, de Mato Grosso do Sul, Kaingang, do Rio Grande do Sul, Macuxi, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, de Roraima, além dos povos Marubo, Kanamari, os dois da Terra Indígena Vale do Javari, e Mura, do Amazonas, além dos Kayapó e XiKrin, ambos do Pará.

“Essa PEC é movida por interesses econômicos dos ruralistas, que não são melhores e mais eficientes que a vida e costumes desses povos que possuem direitos sobre a terra. Garantir tais direitos é uma questão de soberania nacional”, opinou o deputado Evandro Milhomen (PCdoB/AP). 
Os deputados aliados da causa indígena e contrários a proposta tentaram de todas as formas, conforme o regimento, postergar a votação por entenderem que além dela ser inconstitucional, a proposta mereceria mais discussão e debate, pois mexeria com a vida dos povos e causaria mais instabilidade social e jurídica.
Exemplos como a situação conflituosa no Mato Grosso do Sul, onde em novembro do ano passado o cacique Nísio Gomes Guarani Kaiowá foi assassinado, sendo que depois o corpo foi levado pelos pistoleiros, foram citados para mostrar que a conjuntura é de vulnerabilidade e insegurança. 

“Em verdade, essa PEC deveria ser arquivada. Ela atenta diretamente contra o direito desses povos, que aqui estavam antes da formação do Estado. A proposta é flagrantemente inconstitucional porque invade a competência do executivo”, atacou o deputado Alessandro Molon (PT/RJ), um dos parlamentares mais incisivos contra a PEC.

Votação tensa
Conforme estratégia, os deputados contra a PEC passaram a apresentar requerimentos pedindo o adiamento da votação. Os ruralistas que fugiam ao controle e iam para o debate eram logo repreendidos por seus pares. A ordem era para não fazer nenhuma discussão, mas pressionar a votação.
“Os mesmos que querem alterar o Código Florestal querem aprovar essa PEC e são contra a PEC do Trabalho Escravo. Isso não é coincidência. Trata-se da mesma turma”, alertou o deputado Sarney Filho (PV/MA). O deputado Evandro Milhomen completou: “Os indígenas vão defender e brigar por suas terras e mais sangue será derramado. A responsabilidade será dos deputados”. 
Tensionada, a sessão chegou ao fim com a bancada ruralista sobre o presidente da CCJ, Ricardo Berzoini (PT/SP), enquanto os indígenas cantavam em protesto. A polícia legislativa agia com truculência e deputados gritavam longe dos microfones, denunciando os abusos e pedindo o adiamento da sessão. Com o caos instalado, Berzoini colocou a PEC em votação.
“Está se colocando a toque de caixa uma alteração da Constituição que afetará a vida dos indígenas em vista do interesse econômico e imediatista de meia dúzia de ruralistas, que querem a terra desses povos”, enfatizou o deputado Ivan Valente (PSOL/SP). A minoria privilegiada impôs uma derrota não definitiva, mas reveladora sobre o quão fortalecido estão os setores mais conservadores da sociedade.

“A CCJ cometeu um gravíssimo erro. Essa proposta viola duas cláusulas pétreas da Constituição, que é a separação de poderes, já que haverá uma usurpação de prerrogativa do Executivo pelo Legislativo, e também viola direitos e garantias fundamentais dos índios”, defendeu o deputado Molon.

Confronto 

A vitória foi comemorada de forma efusiva pelos ruralistas e evangélicos. No entanto, os indígenas não esmoreceram e decidiram seguir para protesto e rituais no Salão Verde da Câmara Federal. Mais uma vez a polícia legislativa entrou em ação e tentou impedir a passagem dos indígenas. Houve confronto e um dos policiais sacou a pistola de choque, mas logo foi denunciado pelos indígenas. 
Os deputados Amaury Ribeiro (PT/BA), Domingos Dutra (PT/MA), Padre Ton (PT/RO) e Alessandro Molon (PT/RJ) intervieram e junto aos policiais negociaram a passagem dos indígenas. “Com certeza os indígenas vão passar, ninguém pode impedir”, disse o deputado Amaury ao chefe da operação policial – que mobilizou cerca de 30 homens. Entre os indígenas, idosos e mulheres.
Ainda assim eles não queriam permitir e apenas depois de ligações para a mesa diretora da Câmara Federal é que os policiais deram passagem. Em manifestação, os indígenas percorreram o interior do Congresso Nacional até o Salão Verde com os deputados fazendo uma corrente na frente.

Mais mobilizações 

“Se estamos em 30 hoje chegaremos a 300. Podem nos esperar, porque a guerra apenas está no começo”, gritou um indígena Xakriabá na direção da bancada ruralista. Um dos policiais revidou dizendo que era provocação. “Eu não estou aqui porque quero. Quem me provocou a estar aqui foram eles (ruralistas)”, respondeu.

Durante esses dias de mobilizações para combater a PEC, os indígenas ouviram de tudo. “Eles não são índios, mas negros. Índio tem o cabelo liso”, disse uma assessora parlamentar da bancada ruralista para a colega da Confederação Nacional da Agricultura e Agropecuária (CNA), sem se importar com quem estava ao seu lado.

Apesar da derrota, o movimento indígena promete realizar mais mobilizações por todo o país, sobretudo nas aldeias. “Esse é um crime para nós. Sofremos e vamos sofrer mais com essa PEC. Volto para Roraima para mobilizar o meu povo”, disse a liderança Jeci Makuxi, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, de Roraima.

“Se com a Funai (Fundação Nacional do Índio) já está ruim, imagina com deputado que não entende nada de índio e está cheio de interesses. Somos contra por isso”, disse Apuiu Mama Kayapó, do Pará. “Deputado fazendeiro não vai votar pelo índio. Isso não está direito. Vamos fazer manifesto grande. O governo já não respeitou com Belo Monte e agora nada fez contra essa PEC. Vamos ter é que trazer os guerreiros”, concluiu.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Carta Pedagógica do III Módulo do Curso Estadual de Formação da RECID Alagoas.

Se a Rede é maior que o meu amor não 
Tem quem me prove, caia na Rede, não tem quem não caia! (Lenine).

Lutadores e Lutadoras do Povo

Somos educadores e educadoras das várias regiões do estado de Alagoas, integrantes de diversos Movimentos Sociais, Pastorais, ONGs, Povos Tradicionais e Artesãs em caminhada tecendo a rede do poder popular.
Reunidos desde sexta feira costurando reflexões em torno do tema: Projeto de Sociedade x Modelo de Desenvolvimento, homens e mulheres, lutadores e lutadoras que assumem o processo de construção de uma nova prática baseada na formação, ferramenta essencial na elevação da consciência da classe trabalhadora.
A abertura desta etapa foi marcada pela mística das sementes da resistência: terra água e símbolos de luta das organizações presentes. Este primeiro dia teve a contribuição de Gleyson da Consulta Popular da Paraíba, que nos ajudou na compreensão do modelo de desenvolvimento nacional em curso, onde foram apresentados os dois modelos em disputa na última eleição: o neoliberal e o desenvolvimentista, e que existe um terceiro modelo, porém não está em evidencia na sociedade, que é o Projeto Democrático Popular. Para uma melhor compreensão dos modelos fizemos trabalhos em grupos, onde cada um apresentou de forma dinâmica as bases de cada modelo de desenvolvimento, sendo eles liberais desenvolvimentistas e marxistas. À noite assistimos ao Vídeo do 5º Congresso do MST Lutar é preciso seguido de debate.
No segundo dia iniciamos com a mística feita pela Região do Vale do Paraíba onde o tema foi Liberdade. Que nos encorajou a continuar nossos trabalhos. Em seguida com intermediação do camarada Gleyson buscando coletivamente compreender quais passos são necessários para a construção do Projeto Popular para o Brasil, neste sentido vimos que é extremamente necessário entendermos três pontos: correlação de forças, descenso e ascenso de massas e acumulo de forças, enquanto organização três pilares: luta permanente, formação e organização.
À tarde voltamos aos grupos de trabalho onde foram colocadas as ações que a RECID contribuirá na construção do Projeto Popular para o Brasil e foram apresentados os seguintes pontos: 

1 – Formação: fortalecer a formação de quadros, elevação da consciência, forjar novos militantes, formação política como resistência a partir dos processos culturais (música, teatro, poesia);
2 - Divulgar o Projeto Popular, denunciar o modelo capitalista, garantir a identidade da classe trabalhadora;
3 - Lutas permanentes por direitos: fortalecer as lutas coletivas, incentivar e fortalecer as assembléias populares, garantir a luta por reforma agrária e a garantia dos territórios tradicionais e a defesa do meio ambiente, fortalecer as mobilizações contra todas as formas de violência. Compreendemos que as lutas devem ser no sentido de acumular forças, e mexer nas estruturas do Estado.
4 - Ocupar os espaços políticos: fortalecer e construir as articulações política da classe trabalhadora;
5 - Economia popular solidária: fortalecer os espaços de economia solidária;
A noite cultural foi construída com muita dança alegria, entusiasmo, e para nos deixar mais encantados tivemos a participação do povo indígena Katokinn, do município de Pariconha, que dançando o toré nos chamou ao compromisso da luta pelo território tradicional deste povo, compartilhando sonhos, desafios, desejos, ideias de luta, reafirmando nosso compromisso e responsabilidade na construção do Poder Popular.
No terceiro dia, em função da continuidade dos processos de formação no estado, fizemos um debate sobre a organização dos grupos de estudo por região, e encaminhamos a metodologia de entrega dos certificados, onde cada um apresentará um trabalho final (escrito, desenhos, música e outros) sobre seu entendimento, sua compreensão e acúmulo através das etapas do curso.
Em sintonia com o encontro nacional da RECID, o encontro foi terminando com a construção do nosso retalho, cada pessoa de forma criativa, ia colocando seu nome e seus símbolos da luta, da cultura e formando uma imagem coletiva de quem somos e pelo que lutamos, ao som de músicas revolucionária e de resistência. Em seguida teve a mística final, numa roda com a dinâmica do beijo - cada participante ia passando o beijo para quem estava do seu lado, indo e voltando e ao final os animadores da mística entregaram um saquinho de sementes nativas para cada participante, como símbolo da nossa resistência e do nosso compromisso com o projeto popular que aponta para uma vida sustentável no semiárido.


“Olhando o passado pra animar o presente, 
buscando o futuro à realidade será iluminada não 
fica no escuro. Vamos irmãos, lutar, 
por este mundo novo. Com fé no 
Deus que nos ama, nos salva e nos libertar”. 


Rede de educação Cidadã – AL 
Delmiro Gouveia, 04 de março de 2012. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

CÚPULA DOS POVOS - Na Rio +20 Por Justiça Social e Ambiental

O que é

A Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental é um evento organizado pela sociedade civil global que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro – paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20.
Por quê?Rio+20 oficial marca os vinte anos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92 ou Eco 92). Nestas duas décadas, a falta de ações para superar a injustiça social ambiental tem frustrado expectativas e desacreditado a ONU. A pauta prevista para a Rio+20 oficial – a chamada “economia verde” e a institucionalidade global – é considerada por nós como insatisfatória para lidar com a crise do planeta, causada pelos modelos de produção e consumo capitalistas.
Para enfrentar os desafios dessa crise sistêmica, a Cúpula dos Povos não será apenas um grande evento. Ela faz parte de um processo de acúmulos históricos e convergências das lutas locais, regionais e globais, que tem como marco político a luta anticapitalista, classista, antirracista, antipatriarcal e anti-homofóbica.
Queremos, assim, transformar o momento da Rio+20 numa oportunidade para tratar dos graves problemas enfrentados pela humanidade e demonstrar a força política dos povos organizados. “Venha reinventar o mundo” é o nosso chamado e o nosso convite à participação para as organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo. A convocatória global para a Cúpula será realizada durante o Fórum Social Temático (www.fstematico2012.org.br), em 28 de janeiro, em Porto Alegre (RS). O Fórum deste ano é, aliás, preparatório para a Cúpula.
Como?O Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20 (CFSC) está preparando o desenho da Cúpula dos Povos e do território que ocuparemos no Aterro do Flamengo. O espaço será organizado em grupos de discussão autogestionados, na Assembleia Permanente dos Povos e num espaço para organizações e movimentos sociais exporem, praticarem e dialogarem com a sociedade sobre suas experiências e projetos. As ações da Cúpula estarão todas interligadas.
A ideia é que a Assembleia Permanente dos Povos – o principal fórum político da Cúpula, se organize em torno de três eixos e debata as causas estruturais da atual crise civilizatória, sem fragmentá-la em crises específicas – energética, financeira, ambiental, alimentar. Com isso, esperamos afirmar paradigmas novos e alternativos construídos pelos povos e apontar a agenda política para o próximo período.
Quando?Os dois primeiros dias da Cúpula (15 e 16 de junho) serão pautados por atividades organizadas pelos movimentos sociais locais, que estão em luta permanente de resistência aos impactos das grandes obras. Desde esse momento, já estará montado um espaço de livre acesso, onde organizações e movimentos da sociedade civil global exibirão experiências e projetos que evidenciam como é possível viver em sociedade de forma fraterna e sustentável, ao contrário do paradigma hoje vigente.
Por isso, o território da Cúpula dos Povos será organizado de forma livre da presença corporativa e com base na economia solidária, agroecologia, em culturas digitais, ações de comunidades indígenas e quilombolas. Esse encontro da cidadania, que também contará com atrações culturais, ficará aberto até o fim da Cúpula, no dia 23.
No dia 17, domingo, a organização da Cúpula prepara uma passeata para marcar o evento. A partir do dia 18, começarão as discussões autogestionadas e a Assembleia Permanente dos Povos. O 20 de junho será o Dia da Mobilização Internacional, com manifestações que enviem uma mensagem clara e incisiva para a Rio+20 oficial.

O PAPA EM CUBA

Bento XVI celebrará, em Santiago de Cuba, os 400 anos da aparição da Virgem da Caridade do Cobre 

08/03/2012 Frei Betto

Brasil de Fato 

Para desgosto e fracasso das pressões diplomáticas da Casa Branca, o papa Bento XVI chega a Cuba dia 26 de março. Fica três dias na Ilha, após entrar na América Latina pelo México. A 28 de março, celebra missa na Praça da Revolução, em Havana. 
Bento XVI celebrará, em Santiago de Cuba – histórica cidade do Quartel Moncada, onde Fidel iniciou sua luta revolucionária, em 1953 – os 400 anos da aparição da Virgem da Caridade do Cobre. 
Em 1998, logo após o papa João Paulo II encerrar sua visita a Cuba, participei de almoço oferecido por Fidel a um grupo de teólogos. Em certo momento, um teólogo italiano manifestou, do alto de seu esquerdismo, indignação pelo fato de o pontífice haver presenteado a Virgem da Caridade com uma coroa de ouro. 
Fidel não escondeu seu desconforto. E reagiu: “A Virgem do Cobre não é apenas padroeira dos católicos de Cuba. É padroeira da nação cubana”. E passou a relatar como sua mãe, Lina Ruz, católica devota, fez ele e Raúl prometerem que, se saíssem vivos de Sierra Maestra, haveriam de depositar suas armas junto ao santuário, para pagar a promessa que ela fizera. Em 1983, ao visitar o santuário pela primeira vez, vi ali as armas. 
Por essas “cristoincidências” que só a fé explica e as pesquisas elucidam, a Virgem da Caridade e Nossa Senhora Aparecida têm tanto em comum quanto Cuba e Brasil. Como disse Inácio de Loyola Brandão, “Cuba é uma Bahia que deu certo”. As duas imagens foram encontradas durante a colonização: lá, em 1612, a espanhola; aqui, em 1717, a portuguesa. As duas, na água. As duas achadas por três pescadores. Lá, no mar; aqui, no rio Paraíba. As duas são negras. 
O papa chega a Cuba no momento em que o país passa por mudanças substanciais, sem, no entanto, abandonar seu projeto socialista. Há um processo progressivo de desestatização, abertura à iniciativa privada, e mais de 2 mil prisioneiros foram soltos nos últimos meses. 
Hoje, as relações entre governo e Igreja Católica podem ser qualificadas de excelentes. Já não há na Ilha resquícios do clero de origem espanhola e formação franquista, que tanto incrementou o anticomunismo nos primeiros anos da Revolução, quando um padre promoveu a criminosa Operação Peter Pan: convenceu os pais de 14 mil crianças de que haveriam de perder o pátrio poder e que seus filhos passariam às mãos do Estado... Carregou as crianças para Miami, sem pais e mães, e o resultado, como se pode imaginar, foi catastrófico. A Revolução não foi derrotada pela invasão da Baía dos Porcos, patrocinada pelo governo Kennedy, e nem todas as crianças escaparam de um futuro de delinqüência, drogas e outros transtornos. Milhares jamais foram localizadas depois pelas famílias. 
Tanto o Vaticano quanto os bispos cubanos são contrários ao bloqueio que os EUA impõem à Ilha. Pode-se discordar de muitos aspectos do socialismo daquele país, mas ninguém jamais viu a foto de uma criança cubana jogada na rua, famílias morando debaixo da ponte e máfias de drogas. Em Havana, um outdoor exibe um menino sorridente com esta frase abaixo da foto: “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”. 
Cuba tem muitos defeitos, mas não o de negar a 11 milhões de habitantes os direitos humanos fundamentais: alimentação, saúde, educação, moradia, trabalho e arte (vide o cinema e o Buena Vista Social Club). O que mereceu elogios de João Paulo II durante sua visita de sete dias – uma das mais longas de seu pontificado. 
Hoje, Cuba recebe, proporcionalmente, mais turistas que o Brasil. O que é uma vergonha para nosso país de dimensões continentais e com tantos atrativos. A diferença é que Cuba promove não apenas turismo de lazer (suas praias são paradisíacas), mas também turismo científico, cultural, artístico e desportivo. 
A Revolução Cubana resiste há 54 anos, malgrado os atos terroristas contra aquele país, descritos em detalhes no best-seller de Fernando Morais, Os últimos cinco soldados da guerra fria (Companhia das Letras, 2011). E resiste ao fato de suportar, no seu litoral, a base estadunidense em Guantánamo, que lhe rouba parte do território, para utilizá-lo como cárcere de supostos terroristas seqüestrados mundo afora. 


Quem sabe a resistência cubana seja mais um milagre da Virgem da Caridade...

Frei Betto é escritor, autor de Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin (Vozes), entre outros livros

Construir a luta popular pela Comissão da Verdade

As forças sociais se movimentam para defender ou impedir que a verdade venha à tona21/03/2012


Editorial ed. 473 Brasil de Fato


Florestan Fernandes denunciou que a transição controlada da ditadura se transformaria no grande trauma nacional. A partir do entendimento da transição “lenta, gradual e segura” como um movimento de adiamento do desenlace da crise da autocracia burguesa Florestan Fernandes conceituou a Nova República e a operação de “conciliação pelo alto” que lhe deu sustentação, como interrupção da contrarrevolução preventiva desencadeada em 1964 com vistas a barrar, mais uma vez, as potencialidades de uma revolução democrática e nacional alimentadas pelo próprio desenvolvimento do capitalismo dependente em sua fase monopolista. O alvo principal desta operação política promovida pelas classes dominantes era o emergente movimento social das classes subalternas, nascido durante a crise da ditadura, que apresentava uma nítida propositura programática de “revolução dentro da ordem”, embora já apontando tarefas de “revolução contra a ordem”. 
Mais uma vez sua análise foi correta. As eleições de 2010, onde os setores mais conservadores da burguesia foram novamente obrigados a buscar um candidato que ostentasse a luta contra ditadura em seu currículo e as acusações desse candidato contra nossa presidenta Dilma atacavam sua coragem em ter participado da resistência armada, comprovam que o tema segue sendo um forte trauma em nosso imaginário coletivo. 
A questão ressurge com força através da criação da Comissão Nacional da Verdade. O debate sobre o direito de apurar os crimes praticados pela ditadura retoma com força na sociedade. 
A Comissão da Verdade tem como tarefa institucional estabelecer quais as circunstâncias em que as mortes, a tortura, a violência de Estado foi realizada no Brasil. Apurar a responsabilidade dos militares e servidores públicos da época, que teriam participado de atos perversos da ditadura, mas também dos próprios civis que participaram de estruturas não governamentais, empresariais, que participaram da repressão. 
As forças sociais se movimentam para defender ou impedir que a verdade venha à tona. 
Até mesmo os acovardados torturadores saíram de seus esconderijos e lançaram um manifesto em nome do Clube Militar, onde retomam suas velhas ameaças golpistas e atacam a iniciativa do governo federal. 
Recentemente, a Anistia Internacional denunciou que “O Brasil continua atrasado em comparação aos demais países da região em sua resposta às graves violações de direitos humanos cometidas no período militar”, o que constitui um eco do clima internacional em relação ao acobertamento institucional daqueles crimes. É um fato lamentável. 


ONU, Anistia Internacional, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Tribunal Penal Internacional condenam o Supremo Tribunal Federal brasileiro por ter se manifestado contra ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) iniciada em 2010 que questionava a Lei da Anistia, de 1979. A condenação informal do Brasil por leniência com os crimes de Estado durante a ditadura tem amplo apoio dos principais países-membros. 
Entre os países que integraram a Operação Condor – aliança secreta entre Brasil, Argentina, Chile e Uruguai orquestrada pelos Estados Unidos entre os anos de 1960 e 1970 para combater movimentos de esquerda –, só o Brasil ainda não iniciou punições de militares que cometeram crimes de lesahumanidade. Segundo a Ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, a “sociedade precisa mobilizar-se para assegurar a Comissão da Verdade”. 
Recordemos que o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou, em 2 de novembro de 2005, que o Brasil tornasse públicos os documentos relevantes sobre os crimes cometidos durante essa fase do país, responsabilizando seus autores. 
Portanto, para assegurar que a Comissão da Verdade cumpra sua tarefa histórica será necessário construir lutas populares que assegurem sua defesa e funcionamento. 
É o momento dos lutadores populares retomarem com todas as energias as denúncias sobre os assassinos e torturadores que cometeram os piores crimes durante a ditadura. 
Quem praticou tantos horrores nas salas de tortura não pode permanecer esquecido, escondido em sua covardia. Resgatar esses episódios é o caminho para superarmos o grande trauma nacional da Ditadura. Está é a nossa história e não permitiremos que seja abafada. 


Sem mobilização não conseguiremos sequer assegurar a Comissão da Verdade. 

É preciso tocar na ferida e enfrentar esse debate. Mas principalmente, é preciso sair às ruas e construir uma luta popular pela Comissão da Verdade.

sábado, 17 de março de 2012

Carta Memória II - Nacional

Carta Memória II - Nacional
Equipe de Comunicação

Acordamos com o cortejo cultural da RECID, essa equipe de animação é porreta (se não fosse ela não levantaríamos). E com muito esforço levantamos. Brasil....sil...sil...sil, mostra a tua cara! Depois de um grito desses não houve quem não despertou.
Começamos então o dia sob a coordenação do Marcel e da.... e dá... ué cadê? Ah! Chegou! Sandra. Uma olhadinha na programação, equipes de trabalho e não se esqueçam, e houve ainda o anúncio: Não iniciaremos se as equipes não estiverem completas! Corre-corre povo, e ainda um lembrete: não se esqueçam das reuniões. Acorda RECID que ele chegou, falou que vinha e veio, o ministro Gilberto Carvalho - Vocês cumpre um papel primordial, com o trabalho de base mudemos essa realidade difícil, mas temos avançado, e como temos avançado. O ministro se foi e com ele a plenária quase toda, vamos retomar pessoal, vamos retomar que o dia mal começou.
Após um certo esforço conseguimos retomar com o educador Cláudio Nascimento que nos levou a viajar nos processos de lutas históricas no Brasil. E ai o que fazer? E então fazer o que? Depois desse longo resgate histórico e de todas as contradições (palavra da moda) e de mais algumas reflexões trazidas pela plenária é hora de um cafezinho.
Tan, tan, tan, tan, tanananan. Entra no ar o jornal popular do Centro-Oeste – Questão do avanço do agronegócio, o uso dos agrotóxicos, questão da reforma urbana (a falta dela) mega eventos em debate, com gente importante no estúdio sendo entrevistado ao vivo, com reportagem ao vivo também. Na tela digital a apresentadora mostra os desafios da região. Embarca Centro – Oeste, embarca, molha o pé mais não molha a meia...
Embalados pelos belos versos de Patativa do Assaré o nordeste entra em cena – Êta! cabras da peste, a vida não esta fácil por lá não, nunca foi na verdade, mais um povo que nasceu e vive na luta não desiste jamais. Já faz três noites que pro norte relampeia... eu vou embora vou cuidar da plantação.
Chega o sudeste no embalo do Rap, nos livramos do FMI mais olha a FIFA ai, copa pra quem, não pro povo meu bem. A situação não é diferente das outras regiões, pior um pouco, tudo em dobro. Mais o povo resiste, mesmo que de forma espontânea às vezes. Chega de ataques à classe... Conclua companheiros o povo tá doido para almoçar.
Fomos para o almoço mortas/os de fome, é na verdade, quase mortas/os a fila tava imensa, mas nem tanto para lavar as louças. Barriga cheia é hora daquela sonequinha... só pra quem não tem reunião. O tempo voa e já é hora de voltar. Vixi! Inté a equipe de animação sumiu... Vamos voltar povo, e vamos de samba.
E lá vem o norte, com os sons da floresta, sua roda envolvente, as lutas colocadas na ordem do dia. Realidade cruel, desafios gigantes, mas não nos calaram e o trabalho de base e na base continua...
Por fim chega o Sul, com suas bandeiras de luta e uma poesia acompanhado de uma canção para entrar no clima, e entramos. “Mão pra cima, cintura solta... (essa não faz parte da apresentação do Sul mas uma contribuição da plenária) Apesar de governos de cores partidárias diferentes nos estados da região, a vida continua dura guri. Privatização aqui, ali e ai. Mais resistimos e continuaremos a resistir.
Educadoras e educadores vamos levantar, olha para algo que você deseja, abrace, aperte, beije e... ai, ai, assim você me mata...
Então sem mais, vamos aprofundar essa conjuntura, o educador Ney do MST e o educador Denis... Dênis?! Dênis?! Ai, ai, ai... sumiu, fugiu do debate? Não! Adoeceu, e a equipe Ângela de cuidado com o outro, foi cumprir sua árdua tarefa, melhoras companheiro! Aprofundemos sobre nossa reflexão, crise do capital, mundo em confusão, Europa ajoelhada, e o Brasil? Não vamos muito bem não. Nada de mudanças estruturais. É, o companheiro desceu a lenha, não podia ser diferente, somos movimento social. Acomodar jamais. Mais parece que nem todos/as agem assim que o diga aqueles que escreveram aquele documento em 1987. “Do que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou...”
Intervalo minha gente, cafezinho pra relaxar, uma roda de cochicho para ruminar o debate como diria Paulo o Matoso. E vamos retomar... não antes daquele esforço sobre humano da equipe de animação no samba/pago/pmb/forró... tão atirando para todos os lados.
A equipe pedagógica do CAMP entra em cena para nos mostrar uma sistematização das oficinas realizadas neste convênio. Bonito RECID, que bonito, estamos fazendo a diferença. Ou pelo menos tentando, e assim vamos caminhando.
Legal! Então... vamos voltar o debate da conjuntura? Ei, não corram, calmam, venham aqui, gente! Gente! Pessoal? Tem mais recados... as.. os... é... É o pessoal se rebelando, continuar ou não continuar, eis a questão. Vamos então adiar esse negocio para amanhã. Comemoração geral. E a coordenação do dia não teve tempo de dizer tchau... Tá bom, mas não tá.
Quem pensa que o dia acabou está muito enganado/a, e as reuniões? Segura pessoal, rapadura é doce mais não é mole não. Não posso ficar mais nenhum minuto com vocês sinto muito amor mais não pode ser... inté mais, me Pueblo.



Equipe de Comunicação do 11º Encontro Nacional

Juventudes em Rede construindo o poder popular


Reunião de Jovens na RECID Equipe de Comunicação

Por ocasião do XI Encontro Nacional da RECID na noite do dia 15 de março um coletivo de educadores/as que trabalham com a juventude nos estados se reuniu para partilhar e refletir formas de fortalecer e unificar o trabalho junto a estes/as sujeitos/as.
No momento de partilha constatou-se que há um forte trabalho com a juventude na Rede, que este é um dos/as principais sujeitos/as nos processos realizados e que há uma grande diversidade neste trabalho, com alguns estados já tendo realizado encontros específicos de juventude.
Como indicativos para o fortalecimento do trabalho com a juventude o coletivo indicou que os estados e regiões reforcem as ações específicas com estes/as sujeitos, que o coletivo continue partilhando as experiências que acontecem através de uma lista de discussão e que a juventude seja tema de uma das Cirandas de Educação Popular realizadas nacionalmente pela Rede, servindo todo este processo para a construção de um fio condutor para a unificação do trabalho com a juventude na Rede de Educação Cidadã.


Equipe de Comunicação Popular do Encontro

RádioWeb XI Encontro Nacional da Recid


RádioWeb XI Encontro Nacional da Recid

Escrito por  Equipe de Comunicação
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    Baixe aqui os arquivos de áudio das explanações realizadas pelos convidados e educadores da Rede no XI Encontro Nacional da Recid.

    Carta Memória 11º Encontro Nacional

    Carta Memória 11º Encontro NacionalEquipe de Comunicação
    E nas coisas da estrada a chegada, os bilhetinhos com sabor de chocolate adoçam nossa recepção e cria a sensação de que algo ainda mais saboroso estava por vim.... No CIMI, a saudade de quem já veio e o reconhecimento de quem chega pela 1ª vez... Aquele cheiro tomou conta das pessoas, não foi o cheiro da relação, do abraço... Foi o da comida mesmo! Êta cheiro de uma boa comida!!! Teve gente que nem se quer deu um sorriso, olhar ou aperto de mão... Foi direto para as panelas, a fome é triste – deixa as pessoas de mau humor, agora imagine quem está dias sem comer. Bom, agora sim de barriga cheia, nos abraçamos, cheiramos, nos apresentamos.... Descanso? Claro que não, é hora das tão sonhas e almejadas REUNIÕES, sem elas nossas vidas não seriam as mesmas.
    Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste foram afinar as cordas do violão para tocarem o som conjuntural de cada região. Nesta melodia a tarde correu... A quem queria fazer um lanchinho, mas não rolou, é melhor tomar o cafezinho e voltar para a reunião. Algumas equipes começaram a funcionar, aquela que cuida do outro e outra começou a agir e afirmaram cuidam “com e não para”....
    Jantar... Outras/os companheiros/as haviam chegado, e mais abraços e cheiros.... Na plenária outra equipe, agora a de animação, convida as pessoas virem para plenária, e ali, numa roda ainda acanhada, cirandaram, viram mamãe oxum e pisaram ligeiro, pois quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro.
    Olê mulher rendeira, olê mulher rendá..... Olê Estados compartilham seus bordados, com o nome das educadoras e educadores que seguem na construção do puder popular para o Brasil. E Goiás tão perto, chegou atrasado.
    Willian e France chegam no embalo do poema para coordenar a noite, apresentar o objetivo do encontro, o nosso material de apoio, e uma olhadinha na programação. Debate e reuniões, debates e reuniões. Aguente meu povo.
    É hora da abertura política - Nada de descansar: Sociedade civil e governo, é... o bicho vai pegar. Selvino coordena a turma.Gebrim da Assembleia Popular começa a discussão - somos herdeiros das lutas históricas dos movimentos populares, temos que continuar. Nada de que cair no possibilismo e muito menos no sectarismo. É a vez da Salete com ajuda do Ricardo apresentar o que a SDH (Secretaria de Direitos Humanos) está fazendo, muito temos feito e mais ainda vamos fazer. Moema Marques do Ibase e da rio mais 20 – põe fogo no negocio, quer dizer, é contra o fogo, cuidado com o meio ambiente, “galera na Europa já era! Agora é minha vez!!! Agora é nossa vez de explorar os recursos naturais”. A contradição é que não se pode esperar, nosso desafio não é só na rio mais 20... e qual nosso horizonte? O que contrapõe a esse modelo de privatização? Paulo Maldos, da secretaria geral: os limites existem é verdade, mas temos avançado, e estamos avançando, com limites é verdade.
    Há! E não pegou fogo mesmo, mas quem sabe agora com a intervenção da plenária... mas calma pessoal, não dá pra falar todo mundo somente 8 inscrições, há e de 2 minutos. E nessa certa restrição, ainda sobraram 3 inscrições.... e o fogo não pegou, fruto da contradição, pé dentro, pé fora, sociedade e governo... ai ai, eterna contradição. Maior que tudo isso era o cansaço que o diga o cafezinho da cozinha que foi pulverizado. Vamos descansar que merecemos, mas não antes da reunião da coordenação.

    XI Encontro Nacional da Recid – segundo dia!

    Despertados pela música “Brasil!” do eterno Cazuza, construímos um céu de protagonismos, trazendo nossas estrelas dotadas do que temos, fazemos, ou imaginamos para construir um Brasil que queremos, ou seja, Popular! Em seguida adentramos nossas bandeiras, várias em uma só!
    A coordenação do dia inicia os trabalhos retomando a programação que foi alterada para o dia e informes, que trazia a fala do Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho.
    O Ministro trouxe o abraço da Presidenta Dilma e um agradecimento pessoal e governamental pelo reconhecimento do trabalho que a Rede realiza;


    Relatou um pouco da história que tem com a Rede desde o tempo do Frei Beto, ressaltando que, para além do Governo, a Rede tem um Projeto para o Brasil, de transformação. Faz uma análise da atual situação do Brasil, através de um olhar não de Ministro, mas também de ex-militante do movimento social.
    Cita a Rio+20, dizendo que não será só uma Conferência que tratará apenas das questões ambientais, mas um momento para repensar o modelo de desenvolvimento que temos. Cita a fala da Presidenta que no Fórum Social Mundial, trouxe como palavras-chaves para o desenvolvimento: Crescer, Incluir e Cuidar. Crescer sim, mas incluindo o cuidado com o humano e com a natureza. E ressalta que é nesse projeto que a Rede se pauta.
    Então depois deste momento, inicio-se a análise sobre as histórias da lutas populares no Brasil com Claudio Nascimento, que expõe a metodologia pelo qual organizou esse momento, dividindo a história das lutas no Brasil em ciclos (períodos) e trazendo por quais vieses se daria sua exposição: sendo: 1922 a 1954, 1954 a 1989, 1989 a 2011 e o hoje e, pensá-los a partir da práxis (pragmática e prática), revolução passiva, disputa hegemônica ideológica.
    Após sua exposição, partiu-se para as inquietudes e reações da plenária que indagou e contribuiu com o diálogo.
    Impulsionado pelas colocações do pleno, no seu retorno, Claudio Nascimento, diz que vivenciamos e estamos vivendo várias crises, inclusive a do pensar, desde 1968, onde vivemos agitações no mundo inteiro. Há de se buscar valores nas experiências dos índios, negros, jovens, mulheres, valores pré-capitalistas, daqueles que foram mais agredidos. Um poder popular comunal, que prega o bem comum e em disputa com os neodesenvolvimentistas, que nos permita pensar outra sociedade e processo civilizatório.“Nosso país é engravidado de lutas populares e devemos nos debruçar sobre elas não só na operária”, pois o capital transforma todos os bens em mercadorias, sejam culturais, ambientais, etc.
    Um momento muito forte foi as apresentações das análises das regiões em diálogo com os projetos em disputa no Brasil, conceitos, bases sociais e correlação de forças, que se seguem na seqüência:
    Centro Oeste – Em jornal Popular (ao vivo) apresentam sua conjuntura social e política. Com entrevistas, participação popular e muito humor analisaram sua realidade e finalizam com uma “Dança Reflexiva” Pode?! 
    Nordeste - Inicio com a poesia “Nordestinos sim, nordestinados não”. (Pataiva do Assaré); Expõe a síntese dialogando com conjuntura nacional e observância das falas dos expositores da noite anterior e da exposição do Claudio Nascimento e encerra com a música “A volta da asa branca” (Luiz Gonzaga); 

    “Não é Deus quem nos castiga
    Nem é a seca que obriga
    Sofrermos dura sentença
    Não somos nordestinados
    Nós somos injustiçados
    Tratados com indiferença
    (...)

    Somente o amor é capaz
    E dentro de um país faz
    Um só povo bem unido
    Um povo que gozará
    Porque assim já não há
    Opressor nem oprimido” Nordestinos sim, nordestinados não!

    3. Sudeste – Dividiram, pedagogicamente, sua síntese em 03 vieses (mercado, ação do estado e sociedade) e expuseram;
    4. Norte – Iniciam apresentando os dois momentos que iriam compor sua exposição: começaram com leitura de um trecho poético e puxando como grito de ordem o tema do encontro e dançam um carimbó (dança característica da região); no segundo momento expõe a síntese do diálogo da região e finalizaram cantando um trecho da música “Um canto em favor das matas”.

    Trecho poético: “Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, aí sim eles verão que dinheiro não se come…”

    (pegar trecho da música com a região)

    5. Sul – Entraram com as (bandeiras) camisas amarradas em cordão, simbolizando as lutas articuladas e leram uma poesia que faz memória os lutadores e lutadoras da região. Para expor o resultado da região dividiram em: governos municipais e estaduais, políticas públicas, controle social, organizações sociais e movimentos populares articulados, formação e trabalho de base.
    Com tanto trabalho, descontrair é preciso, então eis que entra em cena uma Educadora, Popular, lógico! E nos promove um momento performático de movimentos e sons!
    Voltando aos debates, desta vez com a exposição do assessor Nei Zavaski (Educador Popular do MST) que faz um link com os elementos já apresentados desde o primeiro dia com a fala da mesa (Governo e Movimentos) e com a exposição de hoje (Claudio Nascimento e Regiões).
    Dividindo sua análise em premissas: Vivência numa sociedade de classe e capitalista, formação do povo brasileiro, disputa de poder, desenvolvimento e estratégia do Capital. Com o término da exposição, os participantes cochicharam sobre a apresentação da análise.
    Findando o dia, a Equipe Pedagógica do CAMP, apresenta sua análise dos relatórios das oficinas da Recid. Texto esse batizado por “Sem cercas e muros: a Educação Popular no meio do Povo – Análise do processo pedagógico das oficinas da Recid”. Para encerrar foi feito a entrega de um texto por estado.
    Olé Povo rendeiro, olé povo rendá, tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a lutar!

    E no dia 14 de março inicia-se em Luziânia o XI Encontro Nacional da Rede Educação Cidadã. Este que na verdade vem de um processo de avaliações, reflexões conjunturais e planejamentos de todo ano de 2011. Temos o compromisso aqui de aprovar o novo Programa Nacional de Formação e as políticas da rede para o próximo triênio, na perspectiva de avançarmos na construção do Projeto Popular para o Brasil.
    Nosso Encontro teve início logo de manhã com a chegada dos/as educadores/as, muitos viajando desde a madrugada mas com vontade de rever os/as companheiros/as e de contribuir com os processos. Fomos recebidos com muito carinho e com uma bolsa de retalho, produzidas por mulheres de uma cooperativa de Economia Solidária de Goiânia, com todo o material de subsídio para os trabalhos e reflexões.
    Aproveitamos a tarde para afinar as conjunturas regionais das macros a partir dos processos avaliativos vivenciados nos coletivos estaduais, estas organizaram suas apresentações em torno das bases sociais e a correlação de forças frente aos projetos em curso no país.
    Após o delicioso jantar do CIMI, seguimos para a grande plenária de abertura. Um pouco cansados, mas com grande curiosidade e ansiedade para iniciarmos. O casal rendeiro, Cris (DF) e Branco (AC), com muito gracejo acolheram os estados e os seus retalhos que vão fazer parte da grande colcha que simboliza a unidade da diversidade da Recid. Também acolhemos os convidados, representantes de movimentos sociais e governo federal, que estiveram e estão aqui presentes para contribuir com o nosso processo.
    Esta noite foi o momento de abertura política, num diálogo organizado com a participação de dois representantes governamentais e dois representantes de movimentos sociais. Estavam presentes com a gente Ricardo Gebrim, membro da Assembleia Popular, Paulo Maldos da Secretaria Nacional de Articulação Social, Salete Valesan da Secretaria de Direitos Humanos e Moema Marques da Comissão organizadora da Rio + 20 e da Cúpula dos Povos.
    O momento se iniciou com as reflexões do Gebrin, que reforçou que somos a geração com o papel de retomar as bandeiras de mobilizações profundas e transformação do sistema em que vivemos. Ao mesmo tempo somos bombardeados ideologicamente que isto não é possível. Vivemos um governo de coalizão entre a burguesia e os trabalhadores, isto só é possível porque a conjuntura econômica é favorável, mas não se estenderá por muito tempo. Segundo ele, a crise capitalista é profunda e será prolongada, e ela nos atinge sim e com ela surgirá uma realidade muito mais complexa. Afirma que este nosso governo não consegue assumir as bandeiras de reformas estruturais, e o Projeto Popular tem este papel da mudança profunda. Que nós movimentos sociais estamos acumulando forças e energias para a consolidação deste outro projeto. Possuímos avanços em experiências organizativas dos anos de 1946 à 64, possuímos um acúmulo social histórico silencioso e muito poderoso. Porém as condições sociais e econômicas não nos empurram para as grandes mobilizações. Por isto além dos conjuntos de lutas, precisamos construir uma força social, lutar pelas questões estruturais da sociedade. E por fim ele acredita que temos um papel importante de intervenção em momentos como da Comissão da Verdade, precisamos lutar para resgatar este trauma da ditadura, que coloca em movimento o que há de mais reacionário em nosso país. A nossa luta é cotidiana, não podemos ficar fechados em nossas pautas, necessitamos sobreviver ideologicamente pautando mudanças estruturais e ir além da correlação de forças.
    A Salete Valesan, secretária de promoção dos direitos humanos já acompanhou a rede por um bom tempo através do Instituto Paulo Freire e reconhece a importância do nosso trabalho de base. Ela reforçou o papel da Secretaria de Direitos Humanos, que tem como temática prioritária a educação para os direitos e o papel de transformar bandeiras, pautas de movimentos e de cidadãos em políticas públicas no enfrentamento das desigualdades. O coordenador da área de educação e direitos humanos Claudecir Silva, esteve junto contribuindo com a Salete e indicou que possuímos muitos núcleos de pesquisa com as temáticas dos direitos humanos, mas precisamos aproximá-los das práticas da educação popular para resgatarmos a dignidade e cidadania do nosso povo.
    A Moema Marques trouxe a bandeira da distancia em que vivem nós homens e a natureza, só conseguiremos construir um projeto de justiça social se construirmos um projeto ambiental. Ela alertou para o fato de que o capitalismo possui um grande força de se apropriar das questões ambientais e o que não tinha valor é transformado em mercado. “A termologia da Economia Verde só vem a reforçar este aspecto, ela prega que é possível mantermos o consumo ilimitado sustentável”, disse. Para ela, o capital pretende colocar a natureza como prestadora de serviços, e se intensifica a exploração dos recursos naturais. E é esta exploração que permite este desenho de desenvolvimento em que vivemos em que é possível um Governo que é Pai dos Ricos e Mãe dos Pobres, que possibilita a concentração de renda e as privatizações e ao mesmo tempo distribui renda parcial para a população excluída. Mas este modelo de desenvolvimento é finito, não é possível continuarmos nesta mesma lógica. O desafio, disse, é fazer as disputas a partir de um horizonte político que inclui o meio ambiente e a sociedade.
    O secretário Paulo Maldos explanou o papel da Secretaria Geral da Presidência, como ela está dividida entre a área de diálogos com a sociedade civil, a participação popular e a educação popular. Que esta secretaria tem o objetivo de respeitar e valorizar as pautas trazidas pelos movimentos e disseminá-las para os ministérios e em seguida fazer a devolutiva. Ele afirma a importância de pautar os ministérios, dos setores populares irem além da correlação de forças, principalmente no poder judiciário e legislativo, para seguirem vitoriosos.
    Dialogamos com a abertura política e finalizamos este primeiro dia com as famosas reuniões noturnas que organizam o dia seguinte. E o nosso Encontro segue até dia 18 de março e nós da equipe de comunicação da rede temos o papel de disseminar as vivências e partilhar as reflexões e os aprendizados.

    Equipe de Comunicação Popular da RECID

    domingo, 11 de março de 2012

    Uma barricada nas comunicações

    Movimento piqueteiro lança própria TV e disputa hegemonia com os grandes meios 

    Pedro Carrano de Curitiba (PR)

    Foto: Reprodução 

    O movimento piqueteiro na Argentina, que ganhou força na primeira década do século 21, conta com um meio de divulgação de suas demandas e de disputa de hegemonia no campo das comunicações, a Barricada TV.
    Desde o ano passado, o movimento transmite programas na internet e no canal 5, junto com os trabalhadores da fábrica ocupada IMPA. Confira a entrevista com Natalia Vinelli, da Barricada TV.
    Brasil de Fato – Em que contexto surge a Barricada TV? Essa aliança entre o movimento operário e a TV popular ocorre em outras fábricas na Argentina?
    Natalia Vinelli - A Barricada TV surge no contexto do movimento piqueteiro, primeiro com as transmissões experimentais de televisão por ar em bairros da grande Buenos Aires, como Florencio Varela, Ezpeleta y Solano (2002/05), e logo com as oficinas de formação audiovisual que deram forma ao grupo inicial em 2008, com o que começamos a explorar o formato de noticiário popular. Na realidade, o contexto pode ampliar-se: é a pós-rebelião de 19 e 20 de dezembro de 2001 que motivou numerosos debates entre nós sobre a construção da ferramenta política e também sobre o papel que devia cumprir a comunicação no marco da construção do poder popular; quer dizer, entendida como espaço arrebatado à hegemonia. Nesta lógica é que apontamos à criação de um canal de televisão que se proporia alcançar certo nível de alcance de massas. Assim chegamos à metalúrgica IMPA, que é a primeira fábrica recuperada pelos seus trabalhadores em Argentina. Faz mais de um ano que estamos indo ao ar pelo canal 5 e por internet (http://barricadatv.blogspot.com), junto aos trabalhadores da IMPA realizamos em conjunto o programa “Não passarão”, sobre fábricas recuperadas, e contribuímos com a criação da Universidade dos Trabalhadores, que para a IMPA é muito importante no que toca à formação em problemas do trabalho autogestionado. Claro que há outras experiências de comunicação popular, por exemplo a rádio dos trabalhadores de FASINPAT (ex Zanón), a rádio de Gráfica Patrícios etc, entre as recuperadas, e a larga lista historicamente: sobretudo na experiência mais destacada do Semanário da Central Geral de los Trabajadores (CGT) dos Argentinos realizado pelo militante revolucionário montonero e escritor desaparecido Rodolfo Walsh, entre outros, em fins dos anos de 1960.


    Há possibilidades legais para TVs populares na Argentina?

    Isso porque no Brasil as TVs comunitárias estão controladas por grupos políticos locais. A nova lei de serviços de comunicação audiovisual abre uma possibilidade de reconhecimento legal, mas isto não virá presenteado ou sem esforço, mas sim estará vinculado com a capacidade de mobilização dos setores populares ao redor deste tema. Vamos ter que seguir brigando. Desde que começou o debate sobre a lei a gente vem sustentando a importância de uma intervenção coletiva dos meios e organizações do campo popular, quer dizer, uma intervenção de tipo reivindicativo que permita demandar e lutar por nossos próprios interesses. Por exemplo, tudo o que faz o financiamento e a migração para (tecnologia) digital, que deixa descoberta a desigualdade de condições de onde a televisão alternativa e popular parte. Por isso, pensamos que há que intervir aí: o cenário aberto com a nova lei nos permite aprofundar uma ação que tenda a disputar as massas. Está claro, para nós, que a construção de meios em mãos dos trabalhadores e o povo não pode esperar o dia depois da revolução. Que cumprem um papel fundamental na batalha ideológica, a construção de consenso para a transformação radical da sociedade, para a contrainformação e para a mobilização e organização popular. Com isso, queremos colocar que não é o mesmo contar com frequências que não contar com elas. É certo que em um cenário de agudização da luta de classes o financiamento virá associado ao surgimento de alternativas. Mas conquistar frequências no contexto atual não é a nada desprezível, e vamos ter que nos mobilizar constantemente para isso. (…) Obviamente, a lei de serviços de comunicação audiovisual é uma lei burguesa e como tal não propõe a socialização do espectro radioelétrico. (…) Creio que toda nossa potencialidade, falo de todas as experiências, ainda não termina de impor-se frente ao Estado e contra os empresários de meios. Faz falta ‘tirar mais a cabeça’, disputando o sentido na rua. E claro que isso o lograremos não em tendo tantos meios, mas sim em projetos políticos que, em todo caso, se dão numa política coerente em relação com os meios e a comunicação.

     A jornalista Natalia Vinelli 

    Como veem a importância desse trabalho conjunto entre comunicadores e o movimento de fábricas recuperadas, algo que podemos dizer uma exceção hoje em dia? E como se vê essa experiência também desde o ponto de vista do movimento operário?
    Justamente o fato de armar o canal de televisão no IMPA é para nós um aspecto central, porque expressa uma concepção de mundo baseada nos interesses e necessidades dos trabalhadores e o povo. Junto com isso aprofundamos a sintonia entre a autogestão do trabalho a partir de relações sociais solidárias e de cooperação e a criação de um meio de comunicação popular afirmado também em relações sociais e lógicas de funcionamento novas. A experiência da IMPA é neste sentido um farol para Barricada TV, um espelho para aprender e reconhecer-nos na sociedade que imaginamos para o futuro, mas que começamos a construir desde hoje. Com respeito à relação do movimento operário com Barricada TV, creio que ainda é apressado fazer uma avaliação. A TV é recente, vem logrando visibilidade, mas fazem falta alguns anos para que o processo comece a render seus melhores frutos. Por ora vamos avançando pouco a pouco a passo seguro, construindo relações de ida e volta que nos permitem recorrer às fábricas recuperadas como parte desse movimento e não como alguém de fora. Isso para mim é muito importante. E dificuldades, claro, há milhares. Desde que os companheiros e companheiras entendam a urgência de construir ferramentas comunicacionais próprias, até animar-se a pegar a câmera ou a realizar programas.
    Preencher uma programação com conteúdo de esquerda é um desafio para um meio popular, segundo muitos relatos. Como veem vocês a partir da sua experiência?
    Efetivamente é um desafio. Mas um desafio que nos anima a seguir avançando. Porque se os meios hegemônicos têm como lógica de funcionamento a competição, as condições das televisões alternativas e populares são radicalmente diferentes. Me refiro a que é impossível construir a programação (e a sustentação do canal) se não há articulação e colaboração com outros espaços de televisão popular, de vídeo militante, de correspondentes populares. Neste sentido, Barricada TV tem uma relação muito com Cine Insurgente, a associação de documentaristas DOCA, Resumo Latinoamericano TV, Cartago TV, Canal 4 Darío y Maxi, Faro TV. Ademais, claro, das organizações políticas e sociais que nos enviam seus materiais como forma de correspondências. Cremos que Barricadas TV é um espaço amplo e nesse sentido todas as organizações do campo popular, num sentido aberto, têm um lugar de expressão no canal. Essa é a função dessa ferramenta.
    A luta política que se deu na Argentina desde 2001 trouxe também aportes e surgimento de meios populares? Em caso afirmativo, como estão essas experiências hoje?
    A rebelião do 19 e 20 de dezembro nos permitiu trabalhar em cima da urgência. Os que vínhamos de uma militância anterior tivemos a oportunidade de provar na rua as ferramentas que vínhamos construindo. Também surgiram quantidades de experiências novas. Claro que muitas não superaram o passo do tempo, mas outras cresceram em qualidade e quantidade. Como dizia ao princípio, Barricada TV é filha desse processo.

    Carta das mulheres da Via Campesina, MTD e Levante Popular da Juventude para Dilma Rousseff

    Somos mulheres trabalhadoras do campo e da cidade e, mais uma vez por ocasião do Dia Internacional da Mulher, para nós um dia de luta e resistência contra as opressões e a exploração, temos motivos para seguir organizadas em Movimentos Populares.
    Neste ano, seguimos afirmando nossas bandeiras de luta: pelo trabalho; pelo direito a produzir e a consumir alimentos saudáveis; contra a violência cometida contra mulheres; por medidas a favor de amenizar os efeitos da estiagem no RS, por mais cotas raciais e sociais nas universidades, acesso à cultura e lazer, hoje tão mercantilizados. Enfim, reforçamos que a nossa luta continua sendo contra o capital que segue explorando e expropriando as pessoas de maneira cada vez pior, e contra o patriarcado, que mantém as mulheres oprimidas e violentadas em seus direitos e dignidade enquanto seres humanos.
    Unimos-nos enquanto mulheres empobrecidas do campo e da cidade, e, enquanto jovens, pois nos sentimos constantemente disputadas pelo projeto capitalista seja no campo, nas periferias, nas escolas, universidades ou no trabalho, porque nossa situação de sobrevivência com dignidade e respeito é diminuída a cada dia, apesar de algumas conquistas importantes do ponto de vista legal nos últimos períodos. Contudo, se conquistamos alguns direitos é porque saímos às ruas e praças, fizemos acampamentos e ocupamos lugares que diziam não ser para as “mulheres de bem”. 
    Como mulheres de luta, sem nos importar como nos julgam, destacamos que o TRABALHO deve ser em vista da humanização das pessoas, por isso, não aceitamos mais a desconsideração e a invisibilidade daquilo que dizem ser nossas tarefas, se, sequer são reconhecidas como trabalho. Sabemos que as tarefas mais penosas e repetitivas são destinadas ao sexo feminino, como se fosse uma condição pelo fato de termos nascido mulheres. 
    No campo, denunciamos a falta de investimentos e tecnologias voltadas à agricultura camponesa agroecológica, ao passo que, governos despejam milhões em investimentos para o agronegócio, causador da destruição e envenenamento da natureza. Na cidade, sentimos a precarização do trabalho, a retirada de direitos e o não acesso a emprego por parte de milhares de pessoas. O salário que os oferecem é vergonhoso e a exploração de nossa mão de obra, cada vez mais intensiva. Entendemos que temos o direito de produzir e de consumir alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, sendo este o causador de tantas doenças e mortes das pessoas e do ambiente. Para produzir precisamos de terra, em primeiro lugar, e, por isto, a Reforma Agrária nunca sairá da pauta até não ser concretizada de forma ampla e com condições de as pessoas permanecerem na terra.  A seca tem nos castigado mais uma vez e, diante disso, precisamos de infraestrutura que garanta a viabilidade para voltarmos a produzir. Não podemos esquecer que mais de 70% dos alimentos consumidos no Brasil vem da agricultura camponesa, ainda que tão esquecida frente ao volume de recursos que recebe o agronegócio exportador.
    O “esquecimento” da agricultura camponesa tem sido uma violência contra os camponeses e camponesas historicamente no Brasil e, no campo de produção de alimentos, inclusive, saudáveis, encontram-se as mulheres com seus trabalhos. Continuamos sobrecarregadas, trabalhando mais horas/dia que os homens segundo apontam muitas pesquisas, mas continuamos sendo restringidas de acesso a poder de decisão na grande maioria dos espaços, seja familiares ou institucionais.
    A violência que nos oculta e nos nega poder, como se fôssemos mesmo seres inferiores, embora “proibida a discriminação por sexo”, é parte da violência simbólica estruturada pelo patriarcado, que não deixa de ser, também de ordem física, patrimonial e sexual. Lembremos que as mulheres negras e índias são as que mais sofrem violência e discriminação de todas as espécies pelo fato de o capitalismo ser também racista.
    Somos contra as mudanças no atual Código Florestal, cujas propostas de alteração permitem maior destruição de reservas legais e áreas de preservação permanente. Por isso exigimos o Veto da presidenta Dilma. 
    Como pode-se perceber, temos inúmeros motivos para prosseguirmos em luta, organizadas enquanto trabalhadoras do campo e da cidade.
    PROPOMOS: que a violência contra as mulheres, de forma especial, seja tratada com medidas eficazes com vistas à diminuição, coibição e extinção. Para isto precisa-se da implementação do PACTO/RS contra a violência, que viabiliza estrutura desde as casas abrigos, os centros de referência da mulher e as delegacias especiais da mulher em todos os municípios do Estado.
    Como pode-se perceber, temos inúmeros motivos para prosseguirmos em luta, organizadas enquanto trabalhadoras do campo e da cidade.

    Sem feminismo, não há socialismo”

    08 de março é um DIA DE LUTA, pois entendemos que ainda temos poucos motivos para comemorar e muito o que avançar!

    Encarceradas e abandonadas

    Patrícia Benvenuti
    Da redação  do Brasil de Fato



    As imagens de uma detenta algemada à cama de um hospital depois de dar à luz trouxeram novamente à tona as violações de direitos das mulheres encarceradas.
    O caso ocorreu no município de Francisco Morato, na região metropolitana de São Paulo (SP). Elisângela Pereira da Silva foi presa na cama pelo braço e pela perna logo após o nascimento de sua filha na Santa Casa da cidade. 
    Ela ainda relata agressões físicas por parte de agentes penitenciários. Segundo os funcionários do hospital, que gravaram as imagens, a paciente também foi impedida de ver e amamentar a criança até dois dias depois do parto. 
    Elisângela está presa desde agosto do ano passado, acusada de furtar um enxoval de bebê, e aguarda julgamento. 
    Denúncias semelhantes já partiram de outras presas, apesar de o Brasil ser signatário de um acordo na ONU que determina a proibição de algemas e outros métodos durante os procedimentos do parto. 
    A fim de discutir essas e outras questões referentes à realidade das mulheres presas, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) promoveu, na quarta-feira (07), em São Paulo (SP), o debate “Mulheres encarceradas: avanços e retrocessos”. 
    A mesa teve participação de Heidi Ann Cerneka (coordenadora da Pastoral Carcerária Nacional para as questões femininas, Instituto Terra Trabalho e Cidadania e  Grupo de Estudos e Trabalho Mulheres Encarceradas) e Fernanda Emy Matsuda (advogada, coordenadora do núcleo de pesquisas do IBCCRIM e mestre em sociologia e doutoranda pela USP). 
    O debate ocorre na semana do Dia Internacional de Luta das Mulheres, em 8 de março, e seu objetivo, segundo Heidi Ann Cerneka, será fazer um balanço das políticas voltadas para mulheres encarceradas. 
    A coordenadora da Pastoral Carcerária destaca alguns avanços obtidos nos últimos anos, como a lei 11.942/2009, que garante à presa o direito de amamentar e conviver com a criança até seis anos, e o direito à visita íntima em muitas unidades prisionais. 
    Heidi também destaca que, por meio da Lei de Medidas Cautelares, algumas mulheres estão sendo colocadas em liberdade provisória e, com isso, podem amamentar seus filhos em casa. 
    A maior parte dos avanços, segundo Heidi, ocorre devido à grande proporção de mães dentro do sistema penitenciário. "Mais de 80% das presas são mães, e a maior preocupação delas, no geral, é sobre seus filhos”, afirma. 
    Falhas 
    Se por um lado há melhorias, por outro ainda há muitas deficiências no sistema penitenciário em relação às mulheres encarceradas.  Problemas comuns às prisões – como superlotação, insalubridade, violência, morosidade nos processos - também alcançam as mulheres. Entretanto, Heidi lembra as mulheres possuem demandas específicas que estão longe de ser contempladas. Um exemplo é a questão da saúde, que continua precária. 
    “Hoje em dia faltam médicos em todas as unidades. E as mulheres, pela faixa etária [a maioria tem entre 20 e 35 anos], têm mais necessidade de atendimento por causa da saúde reprodutiva”, explica.
    Outro problema, de acordo com Heidi, é a concentração de unidades prisionais femininas nas capitais. Com exceção de São Paulo, que possui diversas unidades, há poucos locais próprios para mulheres, o que faz com que a presa, muitas vezes, fique distante de sua família. 
    “Tem estados que tem uma ou duas penitenciárias femininas, e elas acabam ficando em cadeias mistas, com os homens. Geralmente elas preferem ficar no lugar mais imundo do planeta, mas perto da família”, destaca.
    E são justamente as questões familiares que mais penalizam as mulheres. Heidi lembra que, diferente de muitos homens, que possuem um lar para onde retornar depois da prisão, as mulheres – a maioria mães solteiras - costumam perder seus elos afetivos no período em que estão encarceradas.
    “Quando a mulher está presa, muitas vezes ela perde a casa, os filhos são espalhados. Quando ela sai, tem que reconstruir toda uma vida. E, se as crianças forem para um abrigo, ela não vai conseguir buscá-las até mostrar ao juiz que tem uma casa e uma renda para mantê-las”, explica.
    Segundo dados de junho 2011 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), 35.596 mulheres estão encarceradas no Brasil, o que representa 6,9% da população prisional, que é de 513 mil detentos. O déficit de vagas femininas gira em torno de 15 mil, contra 193 mil masculinas.
    Perfil
    A falta de assistência judiciária é outra deficiência enfrentada pelas presas que, por via de regra, também são pobres. A maioria dessas mulheres tem idade entre 20 e 35 anos, são negras ou pardas, possuem baixa escolaridade e são chefes de família. Roubos e furtos ainda são causas comuns de encarceramento, mas já não são as principais. A cada ano, cresce o número de prisões por atos ilícitos associados ao tráfico de drogas. Hoje, 64,7% das mulheres estão detidas por esse tipo de crime, o que contribui para o crescimento da população prisional feminina.
    De acordo com o Depen, entre 2000 e 2010, o número de presos homens passou de 240 mil para 496 mil - um aumento de 106%. Já o numero de mulheres presas, no mesmo período, aumentou 261%, pulando de 10 mil para quase 36 mil.
    Para a advogada Fernanda Emy Matsuda, a conseqüência do inchaço das prisões femininas é uma precarização ainda maior do atendimento jurídico. Atualmente, as defensorias públicas estão encarregadas da defesa das detentas, mas o número de defensores é insuficiente diante da demanda.
    “Tem um crescimento muito grande da população prisional feminina especialmente por conta do tráfico de drogas, e esse aumento vem agravando esse quadro de insuficiência de serviços”, afirma.
    Outro ponto problemático, para Fernanda, se refere ao sistema de progressão de penas. Ela lembra que faltam vagas para mulheres no regime semiaberto, o que faz com que muitas permaneçam no regime fechado. Além disso, a advogada alerta para o grande número de prisões provisórias, que contribuem para o inchaço das unidades prisionais.
    “A prisão provisória pode durar anos, e a pessoa no final ainda ser absolvida ou condenada a uma pena diversa da privação da liberdade. Está havendo um uso abusivo da prisão provisória”, avalia.
    Nesse sentido, além de corrigir as falhas já existentes do sistema penitenciário, Fernanda aponta a necessidade de criar medidas que auxiliem as mulheres fora da prisão, garantindo-lhes melhorias de vida.
    “Essa mulher que recorre ao crime é alguém que já está vulnerável. Não tem como a gente falar que a situação dela depois da prisão vai melhorar. Muito pelo contrário. A gente tem que pensar em políticas públicas de uma forma mais ampla, para além da prisão”, defende.