José Hélio Pereira
da Silva[1]
Aconteceu de 04 a 06 de setembro em Palmeira dos Índios a III Plenária
do Grito dos Excluídos com o lema: Juventude que Ousa Lutar Constrói o Poder
Popular. Contando com as participações de jovens e lideranças da Cáritas Diocesana de Penedo, Cáritas Diocesana de Palmeira dos
Índios, Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA, Lar da Criança de Palmeira
dos Índios, Rede de Educação Cidadã - Recid, Povo Xukuru Kariri, Rede de
Juventude do Agreste, Comissão Pastoral da Terra - CPT, Comunidades Quilombolas
Cajá dos Negros e Guaxinim, Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP e
Coletivo Macambira. Envolvidos pela mística do e pela força da juventude e a
sabedoria dos mais velhos vivenciamos três dias de muita partilha e construção
coletiva. A plenária é um esforço
coletivo das organizações dos trabalhadores e trabalhadoras da região que vem
acumulando forças e esperanças desde 2011 na construção de outro projeto de
sociedade a partir da realidade concreta dos excluídos. O que nos levou a
realizar a III plenária foi à necessidade de discutir os Movimentos
Sociais na contemporaneidade e a construção de um Projeto Popular de Estado.
Juntar as lideranças e jovens das organizações para analisar a conjuntura a
partir do olhar eclesial, político, econômica, social, juvenil, indígena e
quilombola na Microrregião do Agreste. Aprofundar Qual o Estado que temos e o
Estado que queremos? E celebrar os 10 anos de Recid Brasil e os 10 Anos da
Cáritas em Alagoas. E realizar o Grito dos Excluídos num Ato público reivindicando uma pauta com as necessidades
comum das comunidades da região. Percebemos
que há muitos direitos humanos negados e violados em nossa região, a luta pelos territórios
tradicionais tem sido um conflito que se estendo por muitas gerações, o Povo Xukuru
Kariri assim como os demais indígenas do país vem lutando pela demarcação de
seu território, desde a colonização, e num processo mais recente 2010 Xukuru
Kariri tem inicio os processos demarcatórios por meio de um decreto assinado
pelo Ministério da Justiça sendo que a fase atual é a regularização fundiária
faltando apenas à homologação pela Presidente da República e a indenização dos
proprietários e pequenos agricultores de boa fé e a devido reassentamento pelo
INCRA, assim com indenizações justas que
possibilitem aos pequenos ocupantes uma vida digna.Porém o processo de levantamento fundiário Xukuru
Kariri foi suspenso graças a uma manobra política dos senadores Renan
Calheiros, Fernando Collor, deputados Renan Filho, Edival Gaia, Prefeito de
Palmeira dos Índios, fazendeiros e empresários locais. O Povo Xukuru Kariri habita
hoje o município de Palmeira dos Índios e tem famílias desaldeadas nos municípios
de Igaci e Taquarana. Ainda em relação às
terra as comunidades Quilombolas da região agreste e médio sertão enfrentam uma
situação histórica de não ter os seus territórios tradicionais demarcados, tão
pouca políticas públicas especificas para estas comunidades. A constatação é
que muitas comunidades quilombolas tem apenas um titulo de reconhecimento, mas
não tem a terra que é a garantia da dignidade. Á analise de conjuntura aponta
que a o modelo de estado que temos e a política partidária não dar conta de
responder e resolver as necessidades concretas do povo, nossas cidades estão abandonadas,
fortes esquemas de corrupção, o modelo de consumo desenfreado que gera muito
lixo, que gera desastre ambiental e humano. São muitos casos de doenças e
mortes na saúde pública, pois a falta de coleta seletiva, os córregos e riachos
e poluição gera doença.
Os lixões continuam a mesma rotina, não há uma ação
concreta dos gestores para resolver esta questão já que até 2014 devem se
acabar com os lixões e os gestores não construírem nenhuma estratégias de
reciclagem, coleta seletiva, educação ambiental da população. A educação deixou de formar o ser humano em totalidade,
serve apenas para atender as necessidades do sistema capitalista, um exemplo
claro são os professores, agentes de saúde, e demais servidores públicos do
município de Palmeira dos Índios que estão em greve a mais de 60 dias por
melhores condições salariais e de trabalho. A violência vem crescendo de forma
gritante e junto o uso e trafico de drogas, que geram morte principalmente da
juventude pobre e negra, um dado oficial do próprio governo federal é que
Palmeira dos Índios está entre uma das cidades mais violentas do país e a
cidade que tem mais pessoas armadas no estado de Alagoas. Numa compreensão coletiva os jovens e
lideranças refletiram a realidade e construíram propostas concretas para uma
verdadeira mudança a partir da realidade das comunidades.
Estado que temos
|
Estado que queremos
|
Escolas fechadas sem professores;
Extermínio de jovens;
Desigualdade social entre ricos e pobres;
Falta de alimentação adequada;
Falta de água nas aldeias;
Muitas indústrias poluindo e as cidades sem rede de esgoto;
Violência sem justiça;
Sem reforma agrária e demarcação das terras indígenas e quilombolas;
Latifúndio;
Saúde debilitada com as pessoas morrendo nas portas dos hospitais;
Minha casa minha vida é insuficiente, pois as moradias são
inadequadas;
Rios poluídos;
Alto uso de agrotóxicos;
Destruição da camada de ozônio;
Educação a força e descontextualizada.
|
Escolas com professores humanizados, qualificados e bem remunerados;
Sem extermínio de jovens;
Uma natureza preservada para os indígenas e toda a sociedade;
O Brasil é muito mais que uma bandeira;
Bem viver como projeto de sociedade;
Que os rios sejam saudáveis;
Demarcação dos territórios indígenas e quilombolas e reforma agrária;
Habitação de qualidade;
Saneamento básico;
Saúde de qualidade;
Educação diferenciada e contextualizada;
Preservação do meio ambiente;
Agroecologia e produção de comida saudável.
|
|
Dia 06 de setembro aconteceu o 18º
Grito dos Excluídos em Palmeira dos Índios tendo inicio na paróquia de são
Sebastião com Celebração dos mártires da caminhada conduzida por Dom Dulcênio
Fontes de Matos, Pajé Antônio Celestino, Bruna Fernandes, Nenem Quilombola e
Jefferson Sousa. Após a celebração o povo saiu numa grande marcha pelas ruas da
cidade com apresentações culturais, e falas das lideranças num verdadeiro
dialogo com a sociedade da necessidade de um projeto de sociedade popular e
democrático; os índios Xukuru Kariri se juntaram as organizações sociais e
populares e aos povos Katókin, Geripankó, Koiupanká e Karuazú para afirmarem
que querem sim a regularização fundiária de suas terras. A marcha seguiu pelas
ruas da cidade e os participantes ocuparam a prefeitura de Palmeira dos Índios se
juntando com os grevistas da saúde e educação, formando uma equipe de
negociação para entregar a pauta de reivindicação ao prefeito municipal. A
ocupação da prefeitura foi um verdadeiro momento de festa e celebração com a
fila do povo, rodas de tore, roda de capoeira, cirandas e encerrando com almoço
coletivo.
Palmira dos Índios, 16 de setembro de 2013.
[1] Educador Popular da Rede de
Educação Cidadã – RECID, Integrante do Coletivo Macambira, Voluntário da
Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios – CDPI, Graduando em Geografia pela
Universidade Federal de Alagoas – UFAL. E-mail: heliomonte.pereira@gmail.com .
Nenhum comentário:
Postar um comentário