quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Juventude que Ousa Lutar Constrói o Projeto Popular!

José Hélio Pereira da Silva[1]

Aconteceu de 04 a 06 de setembro em Palmeira dos Índios a III Plenária do Grito dos Excluídos com o lema: Juventude que Ousa Lutar Constrói o Poder Popular. Contando com as participações de jovens e lideranças da Cáritas Diocesana de Penedo, Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios, Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA, Lar da Criança de Palmeira dos Índios, Rede de Educação Cidadã - Recid, Povo Xukuru Kariri, Rede de Juventude do Agreste, Comissão Pastoral da Terra - CPT, Comunidades Quilombolas Cajá dos Negros e Guaxinim, Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP e Coletivo Macambira. Envolvidos pela mística do e pela força da juventude e a sabedoria dos mais velhos vivenciamos três dias de muita partilha e construção coletiva.      A plenária é um esforço coletivo das organizações dos trabalhadores e trabalhadoras da região que vem acumulando forças e esperanças desde 2011 na construção de outro projeto de sociedade a partir da realidade concreta dos excluídos. O que nos levou a realizar a III plenária foi à necessidade de discutir os Movimentos Sociais na contemporaneidade e a construção de um Projeto Popular de Estado. Juntar as lideranças e jovens das organizações para analisar a conjuntura a partir do olhar eclesial, político, econômica, social, juvenil, indígena e quilombola na Microrregião do Agreste. Aprofundar Qual o Estado que temos e o Estado que queremos? E celebrar os 10 anos de Recid Brasil e os 10 Anos da Cáritas em Alagoas. E realizar o Grito dos Excluídos num Ato público  reivindicando uma pauta com as necessidades comum das comunidades da região. Percebemos que há muitos direitos humanos negados e violados  em nossa região, a luta pelos territórios tradicionais tem sido um conflito que se estendo por muitas gerações, o Povo Xukuru Kariri assim como os demais indígenas do país vem lutando pela demarcação de seu território, desde a colonização, e num processo mais recente 2010 Xukuru Kariri tem inicio os processos demarcatórios por meio de um decreto assinado pelo Ministério da Justiça sendo que a fase atual é a regularização fundiária faltando apenas à homologação pela Presidente da República e a indenização dos proprietários e pequenos agricultores de boa fé e a devido reassentamento pelo INCRA, assim com  indenizações justas que possibilitem aos pequenos ocupantes uma vida digna.Porém  o processo de levantamento fundiário Xukuru Kariri foi suspenso graças a uma manobra política dos senadores Renan Calheiros, Fernando Collor, deputados Renan Filho, Edival Gaia, Prefeito de Palmeira dos Índios, fazendeiros e empresários locais. O Povo Xukuru Kariri habita hoje o município de Palmeira dos Índios e tem famílias desaldeadas nos municípios de Igaci e Taquarana.  Ainda em relação às terra as comunidades Quilombolas da região agreste e médio sertão enfrentam uma situação histórica de não ter os seus territórios tradicionais demarcados, tão pouca políticas públicas especificas para estas comunidades. A constatação é que muitas comunidades quilombolas tem apenas um titulo de reconhecimento, mas não tem a terra que é a garantia da dignidade. Á analise de conjuntura aponta que a o modelo de estado que temos e a política partidária não dar conta de responder e resolver as necessidades concretas do povo, nossas cidades estão abandonadas, fortes esquemas de corrupção, o modelo de consumo desenfreado que gera muito lixo, que gera desastre ambiental e humano. São muitos casos de doenças e mortes na saúde pública, pois a falta de coleta seletiva, os córregos e riachos e poluição gera doença.
Os lixões continuam a mesma rotina, não há uma ação concreta dos gestores para resolver esta questão já que até 2014 devem se acabar com os lixões e os gestores não construírem nenhuma estratégias de reciclagem, coleta seletiva, educação ambiental da população.  A educação deixou de formar o ser humano em totalidade, serve apenas para atender as necessidades do sistema capitalista, um exemplo claro são os professores, agentes de saúde, e demais servidores públicos do município de Palmeira dos Índios que estão em greve a mais de 60 dias por melhores condições salariais e de trabalho. A violência vem crescendo de forma gritante e junto o uso e trafico de drogas, que geram morte principalmente da juventude pobre e negra, um dado oficial do próprio governo federal é que Palmeira dos Índios está entre uma das cidades mais violentas do país e a cidade que tem mais pessoas armadas no estado de Alagoas.  Numa compreensão coletiva os jovens e lideranças refletiram a realidade e construíram propostas concretas para uma verdadeira mudança a partir da realidade das comunidades.


Estado que temos 
Estado que queremos
Escolas fechadas sem professores;
Extermínio de jovens;
Desigualdade social entre ricos e pobres;
Falta de alimentação adequada;
Falta de água nas aldeias; 
Muitas indústrias poluindo e as cidades sem rede de esgoto;
Violência sem justiça;
Sem reforma agrária e demarcação das terras indígenas e quilombolas;
Latifúndio;
Saúde debilitada com as pessoas morrendo nas portas dos hospitais;
Minha casa minha vida é insuficiente, pois as moradias são inadequadas;
Rios poluídos;
Alto uso de agrotóxicos; 
Destruição da camada de ozônio;
Educação a força e descontextualizada.
Escolas com professores humanizados, qualificados e bem remunerados;
Sem extermínio de jovens;
Uma natureza preservada para os indígenas e toda a sociedade;
O Brasil é muito mais que uma bandeira;
Bem viver como projeto de sociedade; 
Que os rios sejam saudáveis; 
Demarcação dos territórios indígenas e quilombolas e reforma agrária;
 Habitação de qualidade; 
Saneamento básico;
 Saúde de qualidade;
 Educação diferenciada e contextualizada;
 Preservação do meio ambiente; 
 Agroecologia e produção de comida saudável.

A celebração dos 10 anos de Recid e Cáritas iniciou com uma roda de tore dos jovens Xukuru Kariri, recordação da caminhada das organizações leitura bíblica e confraternização. Ainda durante a plenária foi construído uma pauta comum com 18 itens de reivindicação a ser entregue nas prefeituras da região.   
Dia 06 de setembro aconteceu o 18º Grito dos Excluídos em Palmeira dos Índios tendo inicio na paróquia de são Sebastião com Celebração dos mártires da caminhada conduzida por Dom Dulcênio Fontes de Matos, Pajé Antônio Celestino, Bruna Fernandes, Nenem Quilombola e Jefferson Sousa. Após a celebração o povo saiu numa grande marcha pelas ruas da cidade com apresentações culturais, e falas das lideranças num verdadeiro dialogo com a sociedade da necessidade de um projeto de sociedade popular e democrático; os índios Xukuru Kariri se juntaram as organizações sociais e populares e aos povos Katókin, Geripankó, Koiupanká e Karuazú para afirmarem que querem sim a regularização fundiária de suas terras. A marcha seguiu pelas ruas da cidade e os participantes ocuparam a prefeitura de Palmeira dos Índios se juntando com os grevistas da saúde e educação, formando uma equipe de negociação para entregar a pauta de reivindicação ao prefeito municipal. A ocupação da prefeitura foi um verdadeiro momento de festa e celebração com a fila do povo, rodas de tore, roda de capoeira, cirandas e encerrando com almoço coletivo.  

                                                                                     Palmira dos Índios, 16 de setembro de 2013. 


[1] Educador Popular da Rede de Educação Cidadã – RECID, Integrante do Coletivo Macambira, Voluntário da Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios – CDPI, Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL. E-mail: heliomonte.pereira@gmail.com .



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